O filme da Netflix, que ficou 5 semanas entre os mais assistidos do mundo, e você ainda não viu Francisco Munoz / Netflix

O filme da Netflix, que ficou 5 semanas entre os mais assistidos do mundo, e você ainda não viu

Em ocasiões raras, quando conseguimos esquecer, mesmo que por um breve momento, as numerosas conveniências da vida moderna e nos voltamos para o essencial em cada um de nós, encontramos nas profundezas de nosso ser algumas das respostas que buscamos há tanto tempo, talvez desde que nossos olhos se abriram para a luz do mundo. Essa busca, às vezes insana, às vezes de uma racionalidade impressionante, assemelha-se à jornada errante de um poeta solitário, perdido em suas quimeras, saboreando o beijo de um anjo enquanto atravessa o arco-íris, ansioso por seu pedaço de ouro.

O ser humano, como sabemos, deseja apenas o que não pode ter e, mesmo quando está perto de alcançar seus objetivos, encontra uma maneira de derrubar suas próprias ilusões, como uma profissão de fé no fracasso, incapaz de viver maravilhado e embriagado com a possibilidade de ser feliz. Ele se reconhece como um mecanismo da Criação dotado de falhas, mas repleto de gloriosos mistérios, aqueles que o tornam tão rico e único, graças às suas sublimes imperfeições.

Talvez o ser humano não possa ser feliz, seja por falta de empenho ou vocação. Apesar das incoerências morais do gênero humano, a natureza, da qual também fazemos parte, quer apenas fazer seus ruídos tão altos que possam nos despertar do torpor em que nos refugiamos confortavelmente enquanto florestas antigas queimam em fornos clandestinos ou são transformadas em assoalhos das mansões de ricaços ignorantes; novas espécies são adicionadas à longa lista de animais em extinção; o solo se racha de sede devido ao calor implacável que impede a formação de nuvens de chuva; ou quando a própria água adoece pela ação humana e o que chamamos de progresso, que usa métodos antiquados e comprovadamente nocivos ao meio ambiente e ao próprio ser humano, que rapidamente encontra desculpas esfarrapadas para justificar sua negligência.

Roar Uthaug, cineasta norueguês, parece ter decidido explorar um nicho que ainda não havia abordado. Utilizando-se do folclore pouco conhecido fora de sua Noruega natal, “O Troll da Montanha” é um grito de socorro da Terra, personificado por uma criatura monstruosa que ataca mais para se defender. O roteiro de Uthaug e Espen Aukan pode inicialmente parecer uma diversão simples para um público acostumado com esse tipo de narrativa para aliviar a tensão, e poucos percebem a mensagem sociofilosófica de filmes como “King Kong” e “Godzilla”. No entanto, a direção segura de Uthaug guia a história desde o princípio para onde ela pretende ir.

A paleobióloga Nora Tideman, interpretada por Ine Marie Wilman, faz uma descoberta que tem lhe tirado o sono há anos: o fóssil de um dinossauro sobre o qual cientistas do mundo todo têm travado intensas e infrutíferas discussões. Uthaug prepara o terreno para a reviravolta no enredo ao incluir a implosão de uma área da montanha onde as equipes trabalham, e a partir daí, a horripilante criatura antropomórfica, colosso de pedras e líquen mencionado no título, passa a dominar a trama.

Para tentar desvendar a verdadeira identidade da criatura libertada da rocha, Nora recorre ao pai, Tobias, que não é exatamente um modelo de retidão moral ou de saúde mental. O personagem de Gard B. Eidsvold preenche a cota dos tipos excêntricos em filmes de tom austero, quase hermético, mas o desenvolvimento desse arco é essencial para a compreensão do tema central, culminando em uma bela sequência em que o troll demonstra mais sensibilidade que muitas pessoas.


Filme: O Troll da Montanha
Direção: Roar Uthaug
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Ação/Suspense
Nota: 8/10