O filme de língua não inglesa mais assistido da história da Netflix Francisco Munoz / Netflix

O filme de língua não inglesa mais assistido da história da Netflix

Em raros momentos, quando conseguimos nos desprender das inúmeras comodidades da vida contemporânea e nos concentramos no essencial de nossa existência, descobrimos respostas que buscamos há tempos, talvez desde que nascemos. Essa procura, às vezes irracional, às vezes extremamente lógica, pode ser comparada à jornada de um poeta solitário, perdido em sonhos impossíveis, experimentando a doçura do beijo de um anjo enquanto persegue um arco-íris, ansiando por seu tesouro. O ser humano deseja o inatingível e, mesmo quando está prestes a conseguir o que almeja, encontra maneiras de destruir suas próprias esperanças, quase como um hábito de fracasso, incapaz de se maravilhar ou aceitar a felicidade. Reconhecer-se como uma criação imperfeita, mas cheia de mistérios gloriosos, é o que torna cada pessoa rica e única.

Talvez o ser humano seja incapaz de encontrar a felicidade, seja por falta de esforço ou por ausência de aptidão. Apesar das falhas morais da humanidade, a natureza, da qual fazemos parte, continua a emitir seus sinais de alerta, tentando nos despertar do conforto letárgico em que nos refugiamos. Enquanto florestas antigas ardem ilegalmente ou se transformam em pisos luxuosos, uma nova espécie é adicionada à lista de animais em extinção, o solo seca por falta de chuva e a água é contaminada em nome do progresso. Esse progresso, que se utiliza de métodos arcaicos e comprovadamente prejudiciais, resulta em desculpas esfarrapadas para justificar a negligência humana.

O diretor norueguês Roar Uthaug parece ter encontrado um novo nicho ao explorar um folclore pouco conhecido fora de sua terra natal. Em “O Troll da Montanha”, ele traz à tona um grito de socorro da Terra, personificado por uma criatura monstruosa que ataca mais para se defender do que por agressividade. O roteiro de Uthaug e Espen Aukan inicialmente parece voltado para um público que busca diversão descompromissada, mas, sob a direção segura de Uthaug, a narrativa revela sua verdadeira intenção. A paleobióloga Nora Tideman, interpretada por Ine Marie Wilman, faz uma descoberta crucial: o fóssil de um dinossauro que tem sido objeto de debates científicos acalorados. A trama ganha um novo rumo com a implosão de uma área da montanha, libertando uma criatura colossal feita de pedra e musgo, o troll do título, que passa a dominar a história.

Para desvendar a verdadeira natureza do monstro, Nora busca a ajuda de seu pai, Tobias, um personagem moralmente ambíguo e mentalmente instável, vivido por Gard B. Eidsvold. Tobias preenche a cota de excentricidade em um filme de tom austero, quase hermético, mas seu desenvolvimento é crucial para o entendimento do tema central. Uma sequência particularmente marcante revela o troll como uma figura sensível, mais humana do que muitas pessoas.

Com “O Troll da Montanha”, Uthaug não apenas cria uma narrativa envolvente, mas também levanta questões socioambientais profundas, explorando como a humanidade interage com a natureza e as consequências dessa relação. Ele usa a figura do troll como um símbolo da força e da fragilidade do nosso planeta, lembrando-nos que, muitas vezes, as criaturas que tememos são aquelas que estamos destruindo com nossas ações.


Filme: O Troll da Montanha
Direção: Roar Uthaug
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Ação/Suspense
Nota: 8/10