Sem debater se o capitalismo é positivo ou negativo, é evidente que este modelo evoca sentimentos primitivos nas pessoas: impulso, competitividade e instinto de sobrevivência. Por um aumento na conta bancária, muitos se dispõem a fazer qualquer coisa. O foco é sempre maximizar os próprios ganhos.
No thriller policial espanhol “O Entregador”, dirigido por Daniel Calparsoro e com roteiro de Patxi Amezcua e Alejo Flah, somos conduzidos por diversos cenários urbanos. De Hong Kong a Madri, acompanhamos o protagonista, Iván (Arón Piper), em sua jornada por vários países enquanto executa missões ilegais de lavagem de dinheiro para uma organização criminosa poderosa.
Antes disso, observamos sua família enfrentando uma crise financeira em 1992. Nesse período, a Espanha lidava com uma série de desafios econômicos enquanto transitava para uma economia de mercado após décadas sob o regime franquista, além de se preparar para sediar os Jogos Olímpicos de Verão em Barcelona. O país enfrentava problemas de desemprego, inflação e desequilíbrios fiscais.
O filme avança para 2002, quando o euro se torna uma moeda continental, criando oportunidades para os mais ambiciosos explorarem formas ilegais de lucro. Iván, um jovem de poucos recursos que trabalha como manobrista em um clube de golfe, sonha em um dia fazer parte daquela camada privilegiada da sociedade.
A trama é livremente inspirada na história de Julián Muñoz, um político espanhol envolvido em escândalos de corrupção. Muñoz foi prefeito de Marbella, na Costa do Sol, mas acabou preso em 2006, condenado por fraude, suborno e lavagem de dinheiro.
Contrariando a percepção comum no Brasil de que a corrupção é exclusiva ao país, diversos países europeus também têm longas histórias de políticos, empresários e atletas corruptos. Em “O Entregador”, os nomes dos personagens foram alterados e as situações receberam uma dose de liberdade poética para aumentar a dramaticidade.
Iván consegue finalmente penetrar na alta sociedade, tornando-se um “entregador” incumbido de transportar malas entre Bruxelas e Genebra. À medida que ganha dinheiro e vê sua vida melhorar rapidamente, sua ambição cresce.
Com uma vida nova repleta de luxos, festas e sexo, Iván se torna cada vez mais sedento por dinheiro, poder e pelos benefícios que isso lhe proporciona. Contudo, a realidade mostra que o controle absoluto é uma ilusão. Naturalmente, sua ascensão meteórica é seguida por uma queda brusca.
Em 2008, o mundo experimenta a crise financeira global, um colapso econômico com consequências em cascata que provocou uma crise bancária, recessão global, altos níveis de desemprego em muitos países, desestabilização de mercados e impactos duradouros. “O Entregador”, disponível na Netflix, provoca reflexões sobre a ineficácia do crime e a falta de controle absoluto sobre o destino.
Filme: O Entregador
Direção: Daniel Calparsoro
Ano: 2024
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10