Mélanie Laurent continua sua jornada de atriz a diretora, com diversas produções relevantes já no currículo. Em “As Ladras”, Laurent se dedica a um compromisso com ideais e visões de mundo que o cinema atual cada vez mais acolhe. Seja por convicção ou pela pressão de movimentos sociais, a direção de Laurent responde às demandas de grupos vulneráveis, ainda que as motivações possam ser discutíveis.
Laurent defende a ideia de papéis importantes para todos os gêneros de atores, destacando as mulheres. Ela retrata três gerações de personagens femininas, um conceito que começou a tomar forma durante a produção de “O Baile das Loucas” (2021), sucesso entre jovens na França. Em seu novo filme, Laurent reafirma um pacto com a audiência e consigo mesma, buscando o inesperado e aplicando técnicas já exploradas anteriormente, mas com uma nova perspectiva.
Mulheres sentem a obrigação de superar expectativas, tanto de forma positiva quanto negativa, frequentemente contrariando comportamentos masculinos inadequados. Carole, a primeira ladra a aparecer, atravessa uma área de vegetação alta na Suíça, observada por Alex, que não a auxilia como deveria. Quando finalmente se encontram, Carole questiona a colega sobre suas complicações amorosas durante o trabalho, situação que coloca ambas em perigo. No entanto, ela logo sente empatia pela colega em um momento de vulnerabilidade sincera.
Laurent e Adèle Exarchopoulos formam uma dupla convincente, especialmente no início da história, adaptada dos quadrinhos de Jérôme Mulot, Florent Ruppert e Bastien Vives, publicados no Brasil como “A Grande Odalisca”. Carole, ansiosa para aproveitar a riqueza acumulada em duas décadas de roubos, continua a agir enquanto as dores do tempo ainda não a afligem intensamente, uma questão que Laurent trata com sutileza.
Exarchopoulos, com sua vitalidade juvenil, embarca em cada aventura, motivada pela possibilidade de se aposentar cedo, mas sempre em busca de adrenalina. Ela é acompanhada por Sam, uma ex-piloto de corrida que deixa seu sonho devido aos abusos de uma equipe masculina, encontrando seu lugar na gangue de Carole. Manon Bresch completa o trio, trazendo um toque de malícia, especialmente na transição para o clímax, onde o grupo aceita trabalhar para a experiente gângster vivida por Isabelle Adjani.
Inspirando-se em obras como “Bela Vingança” (2020) de Emerald Fennell e “A Bailarina” (2023) de Lee Chung-Hyun, o roteiro de Laurent, Christophe Deslandes e Cédric Anger é eficaz em suas propostas. “As Ladras” equilibra discussões sérias com entretenimento, proporcionando reflexões filosóficas, um aspecto apreciável do trabalho de Laurent como diretora e roteirista.
Filme: As Ladras
Direção: Mélanie Laurent
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Comédia/Policial
Nota: 8/10