Quais sacrifícios ainda são impostos a uma idosa oriental e próspera para que se ajuste sem ofender sensibilidades, inclusive de sua família? Será exagerado desejar um ocaso de vida sereno, livre de perturbações, recompensado pela gratidão dos que foram anteriormente cuidados por ela?
No filme “Mulheres Ocultas” (2020), dirigido por Joseph Hsu, observamos uma narrativa delicada sobre o servilismo historicamente imposto às mulheres asiáticas. Hsu discorre sobre a difícil conquista de autonomia feminina ao longo dos séculos, enquanto destaca o preconceito ainda enfrentado por mulheres globalmente, muitas vezes dentro do próprio lar.
Após suportar as humilhações de um marido infiel e desatento, Lin Shoying inverte sua sorte: de vendedora de rua, ela ascende a empresária. Ainda que tenha proporcionado educação de qualidade às filhas e tenha sucesso financeiro, isso não a blinda de julgamentos, mostrando que sua liberdade é ainda restrita. Trinta anos mais tarde, seu ex-marido retorna como um espectro perturbador, suscitando emoções conflitantes e destrutivas, enquanto ele, agora moribundo e endividado, depende dos cuidados de sua nova companheira.
Narrativas familiares, independentemente do seu contexto, ressoam familiaridade ao público. A trama íntima, inspirada na vida do diretor, revela uma mudança de vida singular. Mulheres subestimadas podem gerar mudanças profundas em seu meio, com impacto direto na sobrevivência de seus filhos.
A introdução da pílula anticoncepcional em 1960 revolucionou a autonomia feminina, permitindo à mulher decidir quando e com quem ter filhos, entre outras liberdades. Este avanço na medicina foi crucial para a transformação de costumes sociais. A emancipação proporcionou às mulheres uma maior autodeterminação e trouxe progressos em diversas áreas. Livres da gravidez que tradicionalmente seguia o casamento, muitas mulheres se afirmaram no mercado de trabalho, ganharam confiança e, frequentemente, optaram por viver sem casamento, explorando relacionamentos casuais e a maternidade independente.
“Tomates Verdes Fritos” (1991), dirigido por Jon Avnet, examina a emancipação feminina ligada a essas dinâmicas pessoais. Evelyn Couch, uma mulher presa em um casamento estagnado e sem filhos, encontra uma inesperada aliada que se torna sua salvação. Em contraste, Lin Shoying não recebe apoio nem de suas filhas, que se compadecem do pai e exigem que Lin financie seu funeral, trazendo-lhe desagradáveis surpresas.
O medo aterrorizante da velhice, especialmente da solidão na terceira idade, motiva Lin a tolerar as exigências cruéis de filhas que parecem deleitar-se ao subjugá-la. Com o avançar da narrativa, entende-se o julgamento das filhas, que a consideram culpada pelo afastamento do pai, o qual ela salvou da miséria. A força de Lin, que outrora foi sua proteção, torna-se sua ruína.
Em “Mulheres Ocultas”, vemos Lin aos 70 anos, cometendo um deslize moral inofensivo aos outros, mas prejudicial a si mesma, submetendo-se às tiranias de suas filhas em busca de paz. Nas cenas finais, percebe-se que Lin ainda mantém algum controle sobre sua existência, escolhendo viver conforme seu próprio rumo, mesmo cercada por fantasmas pessoais.
Filme: Mulheres Ocultas
Direção: Joseph Chen-Chieh Hsu
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 10