O interesse persiste em desvendar a ressonância contemporânea dos romances de Jane Austen (1775-1817). Apesar das mutações incessantes no mundo, abarcando desde mudanças sociais até transformações no ambiente corporativo, os escritos de Austen mantêm uma relevância vibrante nos dias atuais, penetrando nas complexidades dos relacionamentos, das convenções e das aspirações humanas.
“Razão e Sensibilidade”, publicado em 1811, inaugura uma trilogia na qual Austen explora o amor em contraposição às exigências fundamentais da existência. Em “Orgulho e Preconceito” (1813), a autora mergulha ainda mais profundamente nos valores arraigados da Inglaterra de seu tempo, desenterrando os segredos de uma família outrora influente, agora enfrentando dificuldades financeiras, e sua busca por segurança por meio de casamentos vantajosos. “Persuasão” (1817), encerrando a obra literária de Austen, reflete suas observações perspicazes sobre a sociedade e seus costumes, enquanto “Sanditon”, embora incompleto, mantém o olhar crítico da autora sobre a burguesia britânica.
A gestação de “Razão e Sensibilidade” foi prolongada, permanecendo nas gavetas de Austen por dezesseis anos antes de ver a luz do dia. A autora aguardou o momento propício para trazer à tona suas análises penetrantes sobre temas que iam desde assuntos íntimos até questões políticas e econômicas, com um foco particular na posição da mulher na sociedade.
A adaptação cinematográfica do romance, dirigida por Ang Lee, é uma verdadeira proeza. Lee, um cineasta taiwanês aclamado, eleva cada palavra do texto original com maestria técnica, criando uma obra singular que ressoa em cada cena.
A trama gira em torno da família Dashwood, que se vê confrontada com a venda de sua propriedade após a morte do patriarca. O testamento deixa a segunda esposa, interpretada por Gemma Jones, e suas três filhas fora da herança, forçando-as a uma vida de restrições financeiras. As reações das irmãs Dashwood, especialmente de Elinor, interpretada com maestria por Emma Thompson, são marcadas por uma resignação dolorosa, evidenciando o talento da autora em retratar as complexidades das relações familiares.
A chegada dos protagonistas masculinos, como Edward Ferrars, John Willoughby e o coronel Christopher Brendan, interpretados respectivamente por Hugh Grant, Greg Wise e Alan Rickman, acrescenta camadas adicionais à trama. Ang Lee habilmente explora as reflexões de Austen sobre o amor e seus significados, sem oferecer respostas definitivas.
A abordagem cinematográfica de “Razão e Sensibilidade” não se contenta em apenas replicar os eventos do romance, mas busca capturar a essência emocional e os dilemas morais que permeiam a obra de Austen. Emma Thompson, além de protagonizar, contribui significativamente com o roteiro, acentuando as angústias e os conflitos internos das personagens.
A atmosfera melancólica da mansão Dashwood, agora à beira da venda, é meticulosamente construída, refletindo o desenlace da família e suas lutas contra a adversidade. Cada cena é impregnada de uma tensão sutil, transmitindo a sensação de um mundo em transição, onde os valores tradicionais colidem com as exigências da modernidade.
Os atores, sob a direção precisa de Ang Lee, entregam performances cativantes, dando vida às nuances dos personagens de Austen. Kate Winslet brilha como Marianne Dashwood, expressando sua paixão e vulnerabilidade com uma intensidade palpável. Hugh Grant e Alan Rickman trazem profundidade e complexidade aos seus papéis masculinos, enquanto Greg Wise encarna o charmoso, porém ambíguo, John Willoughby com uma elegância sedutora.
A cinematografia de “Razão e Sensibilidade” é igualmente impressionante, capturando a beleza melancólica da paisagem inglesa e os detalhes meticulosos da época. Cada quadro é uma pintura em movimento, evocando a atmosfera romântica e nostálgica do século 19.
No cerne da história, permanece o eterno embate entre razão e emoção, personificado nas irmãs Dashwood e em seus diferentes modos de lidar com as adversidades da vida. É essa dualidade que torna o romance de Austen tão universalmente relevante, transcendendo as barreiras do tempo e do espaço.
A adaptação cinematográfica de “Razão e Sensibilidade”, que está na Netflix, é uma homenagem reverente ao legado de Jane Austen, capturando a riqueza emocional e a complexidade temática de sua obra seminal. Sob a orientação habilidosa de Ang Lee e o talento inegável do elenco, o filme ressoa com o público contemporâneo, oferecendo uma reflexão profunda sobre o amor, a família e os valores humanos universais.
Filme: Razão e Sensibilidade
Direção: Ang Lee
Ano: 1995
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10