Envolvimento de agentes da lei em comportamentos incompatíveis com suas funções constitucionais deixou de ser exceção e passou a ser uma norma problemática, acompanhada de diversas implicações colaterais. Há casos em que esses profissionais são flagrados cometendo crimes tipificados no Código Penal. A função crucial das forças de segurança de separar o certo do errado, para garantir as liberdades individuais, tem sido utilizada como justificativa para crimes que atentam contra a dignidade de todos, independentemente de classe social. Esse cenário cria um ambiente de insegurança e paranoia, especialmente quando policiais integram estruturas corrompidas. Apesar de quaisquer intenções que possam parecer louváveis, esse caminho leva toda a sociedade ao declínio.
“O Desconhecido” (2022) é um filme que se destaca. O diretor e roteirista Thomas M. Wright explora situações do cotidiano policial que surpreendem o público. Em busca de uma justificativa para o declínio moral, Wright cria uma narrativa que mistura sátira e ensaio, focada em policiais que atuam dentro dos limites legais, mas pouco eficazmente, em uma investigação de assassinato. Quando percebem que seguir estritamente os ritos legais é ineficaz, um deles tenta uma manobra arriscada, que pode resultar em violência. O texto de Wright é sutil, evitando ambiguidades. Os personagens cumprem seus papéis sem grandes desvios.
Daniel Morcombe, desaparecido em Queensland, Austrália, em 2003, se tornou conhecido. O que poucos sabem é como se chegou ao criminoso, após muitos reviravoltas. A trama é complexa, podendo confundir até espectadores australianos. Apesar de excessos, Wright é auxiliado por Joel Edgerton, que interpreta Mark, um policial messiânico que trata o suspeito com urbanidade. Edgerton, também envolvido na produção, traz calor ao enredo, contrastando com a frieza do antagonista.
O elenco de “O Desconhecido” poderia ser reduzido a Edgerton e a figura central. O diretor usa enquadramentos intimistas para mostrar Sean Harris como uma fera ferida ou em busca de seu próximo alvo, examinando seu novo “amigo”. Henry Teague, seu personagem, parece um pobre solitário, mas esconde um segredo. Wright explora a dualidade de Teague, propondo um jogo estimulante. Os personagens se envolvem no mundo um do outro, criando a ilusão de amizade, mas Teague manipula seu algoz.
Filme: O Desconhecido
Direção: Thomas M. Wright
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 8/10