Não é todo mundo que assistiu a “Apocalypse Now”, a obra mítica de 1979 de Francis Ford Coppola, indicada em oito categorias do Oscar e vencedora de duas estatuetas (Melhor Fotografia e Melhor Som). Mas todos sabem que esse foi o filme que quase levou o cineasta à loucura. A verdade é que Coppola é um herói torturado por suas obras. Em “O Poderoso Chefão”, as coisas também foram bastante complicadas, embora seu trabalho no drama antiguerra tenha sido quase catastrófico.
Escrito por John Milius, inspirado pelo livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, o filme acompanha o Capitão Benjamin Willard (Martin Sheen) em uma missão secreta do Exército dos Estados Unidos. O objetivo é assassinar o misterioso Coronel Boina Verde Walter Kurtz (Marlon Brando). A missão ocorre no auge da Guerra do Vietnã, em meio a um cenário de caos, brutalidade e completa barbárie. No decorrer de sua jornada, o Capitão Willard encontra homens tomados pela loucura e cenários surreais de violência e desumanização.
Quando finalmente encontra Kurtz, que dizem ter enlouquecido, este se estabeleceu em uma zona remota para além do Camboja e é cultuado pelos nativos como um deus. Willard sente o peso implacável de seu teste, testemunhando outros soldados perderem sua inocência, enquanto ele próprio perde um pouco de sua humanidade ao atravessar seu longo e torturante caminho até Kurtz.
Programado para ser filmado em seis semanas, o filme acabou levando quase um ano e meio para ser finalizado devido às intensas adversidades. Depois disso, foram mais três anos de edição das mais de 200 horas gravadas. As filmagens, realizadas nas Filipinas, foram atrapalhadas por diversas condições meteorológicas, como chuvas tropicais intensas, calor insuportável, tufões e enchentes, que dificultavam o acesso a alguns locais e danificavam os equipamentos, além de um clima que deixava a equipe do filme frequentemente doente e exausta. Foi emocionalmente desgastante e financeiramente desafiador.
Francis Ford Coppola, que se mudou com toda a sua família para as Filipinas, chegou a hipotecar a casa em que morava e uma de suas vinícolas para cobrir os mais de 7 milhões de dólares que ultrapassaram do orçamento. A situação foi tão estressante para todos os envolvidos na produção que Martin Sheen, que interpreta o protagonista, sofreu um grave ataque cardíaco. Enquanto estava hospitalizado e se recuperava do colapso nervoso que teve no set, foi temporariamente substituído por seu irmão, Joe Estevez, com quem é extremamente parecido. Até mesmo suas vozes são idênticas, o que levou Coppola a usar Joe para dublar cenas que ficaram inaudíveis no lugar de Martin.
Em um episódio de colapso emocional de Martin Sheen durante as gravações, ele se descontrolou e esmurrou um espelho real, cortando a própria mão e danificando o cenário. A cena, gravada, também foi utilizada no filme. Apesar de todas as situações caóticas que contribuíam cada vez mais para o fracasso do filme, Francis Ford Coppola se sentia cada vez mais obcecado com o projeto e obstinado a concluí-lo. No entanto, ele acreditava que o filme seria um fracasso comercial, devido aos intensos problemas de produção. Para sua surpresa, “Apocalypse Now” ganhou a Palma de Ouro em Cannes, onde foi aplaudido de pé após sua exibição. Amplamente aclamado pela crítica, o filme desponta em 28º lugar na lista definitiva dos 100 melhores filmes de todos os tempos do Instituto Americano de Cinema.
Filme: Apocalypse Now
Direção: Francis Ford Coppola
Ano: 1979
Gênero: Drama/Suspense/Guerra
Nota: 10