Dicionário cínico de cineastas, atrizes e atores

Dicionário cínico de cineastas, atrizes e atores

Depois do sucesso do “Dicionário Cínico das Palavras da Moda”, que virou livro, a Revista Bula segue em seu projeto de dominação mundial e reformatação do imaginário cultural do Ocidente com esse filho bastardo: o “Dicionário Cínico de cineastas, atrizes e atores”. O objetivo é estabelecer definições definitivas e sem censura sobre os mais importantes, e outros nem tanto, artistas do audiovisual de hoje, de ontem e alguns de amanhã. Nada de datas de nascimento, onde morreu, em quais obras trabalhou ou coisas do tipo. Para isso existe a Wikipédia e o Doutor Google. Nosso objetivo é colocar o elefante na sala, gritar o que está nas entrelinhas biográficas, colocar o dedo na ferida e soprar pimenta no olho. Sem perder a ternura jamais, claro. Nem o humor. Obviamente, para entender a piada é recomendável que se tenha o mínimo de conhecimento acerca da “biografia oficial” dos personagens de nossos verbetes. Aguardem para breve os primeiros volumes do “Dicionário Cínico dos Músicos”, “Dicionário Cínico dos Pintores, Escultores e Artistas Conceituais”. Esse é apenas o começo de uma saga potencialmente infinita.

Adam Driver: Resultado de alguém tentando desenhar Keanu Reeves de memória, segundo Nicole Bueno.

Arnold Schwarzenegger: 1. Rambo com sotaque austríaco em “Comando para Matar”. 2. Amigo de Apolo Creed em “O Predador”. 3. Governador da Califórnia. Se você está lendo isso, você é a resistência. 2. Prestes a passar da idade até para interpretar o idoso Rei Conan. 

Al Pacino: 1. Guardou e distribuiu todo o exagero que não pôde colocar em Michael Corleone nos outros personagens que interpretou ao longo das décadas seguintes. 2.  Dançarino de tango “amador”. 3. Segundo melhor diabo, depois de Robert De Niro.  

Audrey Hepburn: 1. Melhor assobio do cinema. 2. Melhor pessoa para acompanhar vendo vitrines. 3. Infelizmente, não veio para o Brasil no final de “Bonequinha de Luxo”.

Brad Pitt: 1. Ator que vampirizou todos os papeis que naturalmente seriam de Tom Cruise a partir de 1994. 2. Mais alto, mais bonito e mais talentoso que Tom Cruise.

Bruce Lee: Alguém que apanharia de Anderson Silva, Popó e Rickson Gracie.

Charles Chaplin: 1. Sósia de chanceler alemão de origem austríaca. 2. Terceiro melhor imitador do personagem Carlitos. 3. Cineasta mediano que atuava brilhantemente diante das próprias câmeras. 4. Buster Keaton era melhor.

Clark Gable: 1. Ele avisou para os cavalheiros do Sul que ia dar merda. 2. Usuário da camiseta branca primordial. 3. Interprete do marinheiro amotinado Fletcher Christian depois de Errol Flynn e antes de Marlon Brando e Mel Gibson. 

Christian Bale: 1. Queridinho da nutri. 2. Língua presa mais versátil de Hollywood. 3. Mais um Batman que mata.

Daniel Day-Lewis: Sapateiro especializado em pés esquerdos.

Errol Flynn: 1. Única pessoa do mundo capaz de usar colant verde sem parecer ridículo. 2. Intérprete do marinheiro amotinado Fletcher Christian antes de Clark Gable, Marlon Brando e Mel Gibson. 

Federico Fellini: 1. A arte de filmar lindamente pessoas feias. 2. A arte de filmar e dublar lindamente diálogos maravilhosos sem sincronia labial. 3. A arte de filmar lindamente Roma, Marcello Mastroianni e roteiros sem sentido.

Francis Ford Coppola: 1. Padrinho de George Lucas. 2. Apocalipse de Marlon Brando. 3. Não deixou Robin Willians crescer. 4. Saiu de “O Fundo do Coração” para o fundo do poço. 5. Proprietário de vinícola.

George Lucas: 1. Cineasta que foi seduzido pelo lado sombrio da Força. 2. Artista genial que perdeu o talento na década de 1970. 3. Criador de personagens com potencial gigantesco que não servem para nada durante as tramas.

Harrison Ford: 1. Carpinteiro. 2. Arqueólogo. 3. Contrabandista.

Jack Nicholson: 1. Filho da irmã. 2. Terceiro melhor demônio da história do cinema, depois de Robert De Niro e Al Pacino. 3. Ator que nunca saiu do personagem que interpretou em “O Estranho no Ninho”. 4. Ator que interpretaria o Napoleão de Stanley Kubrick, o maior filme que nunca foi feito.

James Dean: Dilema de Aquiles encarnado e desencarnado.

Kathryn Bigelow: 1. Esposa traída que se vingou tirando o Oscar de Melhor Direção do ex-marido fura olho. 2. Autora da façanha inédita de conseguir fazer Keanu Reeves interpretar um personagem tridimensional em “Caçadores de Emoção”.

Keanu Reeves: 1. Melhor pior ator de Hollywood. 2. Pobre menino rico. 3. Celebridade com maior probabilidade de ser encontrado no metrô ou sentado na sarjeta. 4. O Escolhido.

Kevin Bacon: 1. Você que está lendo isso tem, no máximo, cinco pessoas te separando do Kevin Bacon. 2. Parte da dieta de todo amante do cinema.

Laurence Olivier: 1. Melhor ator do século XX, segundo desafetos de Marlon Brando. 2. Canastrão, segundo J. D. Salinger. 3. Marido de Scarlet O’Hara, mas amanhã será outro dia.

Leni Riefenstahl: 1. Fiz, mas não fui eu. 2. Exemplo de aplicação das frases “melhor só do que mal acompanhada” e “diga com quem tu andas que te direi que é”.

Leonardo Di Caprio: 1. Rei do mundo. 2. Ambientalista radical que não aprova fontes geradoras de gás carbônico com mais de 25 anos de existência. 

Marilyn Monroe: 1. Morena que desconfiava que os homens preferem as loiras. 2. Animadora de aniversários. 3. Leitora de James Joyce.

Marlon Brando: 1. O maior ator de Hollywood, principalmente no final da carreira. 2. Usuário da calça jeans primordial. 3. Segundo melhor acariciador de gatos da história do cinema, depois de Audrey Hepburn e antes de qualquer Blofeld da série 007. 4. Intérprete do marinheiro amotinado Fletcher Christian depois de Errol Flynn e Clark Gable e antes de Mel Gibson.

Mel Gibson: 1. Ele é misterioso, ele é mau, ele é bonito. 2. Visionário que transformou o sadomasoquismo em entretenimento para toda família. 3. Intérprete do marinheiro amotinado Fletcher Christian depois de Errol Flynn, Clark Gable e Marlon Brando.

Meryl Streep: Esse verbete vai render uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.

Mickey Rourke: 1. Precursor da moda de celebridades esmurrarem suas carreiras e rostos praticando boxe. 2. Ari Johnson particular do Sylvester Stallone. 

Quentin Tarantino: 1. Sutil diferença entre referenciar e plagiar. 2. Obra que totalizará dez filmes que poderão ser contados nos dedos das mãos e um dos dedos dos pés. 3. Ressuscitador de carreiras. 4. Cineasta que virou adjetivo: tarantinesco, seja lá o que isso signifique.

Robert Downey Jr.: Gênio, bilionário, playboy, filantropo.

Robert De Niro: 1. Está falando comigo? 2. Marlon Brando jovem quase tão bom quanto o verdadeiro Marlon Brando jovem. 3. Um demônio melhor que Al Pacino.

Rick Moranis: Querida, abandonei a carreira.

River Phoenix: 1. Amigo do Milton Nascimento. 2. Jovem Indiana Jones. 3. Foi um rio que passou em minha vida.

Sean Connery: 1. O intocável Connery, Sean Connery. 2. Melhor sotaque escocês de Hollywood.

Stanley Kubrick: 1. O Iluminado. 2. Cineasta de olhos bem abertos. 3. Tão genial e genioso que considerava Steven Spielberg seu estagiário.

Steven Spielberg: 1. Especialista em consertar ou minimizar ideias ruins de George Lucas. 2. Inventor da sofisticada técnica de estragar filmes geniais com finais melodramáticos sem perder a respeitabilidade. 3. Verdadeiro diretor de “Poltergeist, o Fenômeno”.

Sylvester Stallone: 1. Garanhão italiano. 2. Cabelo curto para Rocky. 3. Cabelo longo para Rambo. 3. Rambo de cabelo curto perdeu-se no México.

Tom Cruise: 1. Messias da cientologia. 2. Suicida profissional. 3. Intérprete potencial de todos os papeis de Brad Pitt a partir de 1994, se não tivesse desistido de ser um ator sério e passado a se dedicar a correr em filmes de ação. 4. Mais baixo, menos bonito e menos talentoso que Brad Pitt.

Tope Hooper: 1. Diretor de “O Massacre da Serra Elétrica”. 2. Funcionário que assinou a direção de “Poltergeist, o Fenômeno”.

Ademir Luiz

É doutor em História e pós-doutor em poéticas visuais.