Tem sido uma loucura. O planejamento é crucial, mas não só. Desde o elementar, o desenho da casa, a mão-de-obra, o acompanhamento e a… paciência ponderada redobrada.
Financeiramente eu identifiquei quatro etapas. A primeira é o que você acha que consegue gastar. A segunda é o que o projeto diz que você deve gastar. A terceira é a que você vai precisar gastar. E a quarta etapa é a pior, e a que estou nesse momento, é a “putaquepariu de onde eu vou tirar dinheiro para finalizar essa obra dignamente”?
O mesmo acontece com a previsão. Isso tudo morando na casa em reforma se torna quase desesperador. As minhas segundas-feiras são a martelada, martelete ou furadeiras ou a tal da maquita (não queiram conhecer!), o novo pio matutino dos passarinhos. A casa fica numa condição periclitante, até os animais de estimação sofrem, porque eles se amontoam na bagulheira toda. E os adiamentos de entrega devem ser computados, alguns evitáveis, outros não.
Inclusive um aparte, é absurdamente ridículo o plano de financiamento oferecido pelos planos de bancos para PcDs (Pessoas com Deficiência). Deve ser lei, sendo é muito ruim, e os bancos públicos deviam tomar frente de uma política razoável. Emprestam 30 mil reais, no máximo, com comprovações de aquisição e toda a burocratização que recai nisso, do começo ao fim.
O Estado brasileiro tem esse quê de crueldade, onde precisa ter burocracia, não tem, onde não precisa tanta, tem. Vide as Assembleias Legislativas, o Judiciário e o Executivo. Todos os poderes constituídos.
Quando soube dessa linha de financiamento, fomos — eu e minha irmã com as indefectíveis bengalinhas, meu pai, nosso cavalheiro e sentinela, e todos os documentos ao banco, para a nossa surpresa o funcionário que trabalha há mais de 10 anos no banco não sabia dessa linha. Eu, sociologizando: “Que pena. Mas você sabe da linha de financiamento para o agronegócio?” E ele: “Essa eu sei.” Desconfiei desde o princípio. Uma casa não adaptada é uma condição de improdutividade e de adoecimento grave, o que é ruim para o Estado, se o argumento cretino for produtividade.
Vocês todos devem saber que o financiamento para o agronegócio é suntuoso e que os fazendeiros usam não só para sementes, como também para renovar as camionetes deles, e quiçá uma novinha para o filhinho que completou 18 anos e precisa passear na cidade com ela. E ainda querem os votos e o coração desse pessoal.
No meu caso, o Léo, publicitário de formação e atuação, agrupou várias pessoas amig@s com qualidades e grupos diferentes. É preciso trabalhar em diversas frentes. Um arquiteto, engenheiro, advogado, marketeiro, vendedor, economista, sociólogo, pintor… E é piso, pedra, cimento, torneira, tijolo, caçamba, tinta, joelho, fixador, grampo, rolo, ferragem, mangueira, fios, caixa de passagem, pedra marroada, tinta, cartório, aprovação de notas e compras, alizar (que o Léo me falou com muita naturalidade, e eu nunca soube, fui ao dicionário e aprendi, reforma também é cultura!)… enfim.
E um monte de fornecedor — é aí que bebê chora e a mãe não vê; nota, gerente de banco, fingir que você sabe algo do cano tal de tal marca que vai ser garantido com ele porque é cabeceira ou o top das galáxias! E o barrilete e os rufos… sério, é uma ciência, os códigos sociais são distintos e os termos específicos, e nisso você valoriza o aprofundamento das áreas, o conhecimento e qualificação. Não é diferente na universidade, entre os intelectuais, entre garçons, baristas, músicos, poetas, pedreiros… é o que o Bourdieu chama de “autonomia relativa dos campos”.
Aprendi que “lêndia” é parente de “imbira”, quem teve uma na cabeça ou outra no braço sabe o quão é difícil se desfazer delas. “Estrovam” mesmo!
O risco é o mesmo de ir ao mercado com fome e comprar tudo, muitas desnecessidades. É como escolher a torneira ou as cores das tintas com uma vontade profunda de a tal da reforma terminar. Por isso, muita calma nessa hora.
Em condições melhores devo ler e escrever mais. Isso se a reforma acabar. Então, esperem mais textos, me suportem!
Quem quiser contribuir, disque 0800… para doar tantos reais. Ops! Desculpem-me, exagerei. Claro! Mas se não vai ajudar com dinheiro, pode ser trazendo o café e botando a mão na poeira dos livros para arrumar a biblioteca ou mesmo para empurrar móveis — vai que aquele amigo dono da empresa de móveis planejados me leia –, ou mesmo para doar uma plantinha/mudinha… que floresça em 2024, porque o ano de 2023 só acaba com o fim dessa reforma!
Eis a vida de um reles mortal.