Dirigida por Zack Snyder, a sequência mais esperada de 2024 acaba de estrear na Netflix Clay Enos / Netflix

Dirigida por Zack Snyder, a sequência mais esperada de 2024 acaba de estrear na Netflix

Um novo Mundo-Mãe colapsa depois do assassinato de seu rei e rainha, e as lutas fratricidas por poder tratam de minar a disposição do povo para reagir. O senador Balisarius, o novo regente, envia seu general mais atroz para perseguir os que não se conformassem com a ascensão do novo reino, os rebeldes do título. Começa um tempo de incerteza, selvageria e fome, um processo gradativo, mas constante, de subjugação, que, por outro lado, vai fortalecendo a resistência. Essa é a ideia-força de “Rebel Moon — Parte 1: A Menina do Fogo” (2023), um petardo que amalgama sequências de ação e saborosos delírios quanto ao que pode vir a ser a Terra caso o homem persevere em seus intentos megalomaníacos de poder, mandando a fatura para o ambiente.

Em “Rebel Moon — Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes”, Zack Snyder, com a licença do trocadilho, refina ainda mais o corte acerca de sua personagem central, uma heroína torta que encara tragédias íntimas e hecatombes devastadoras ao passo que redescobre prazeres essenciais que julgava mortos. Junto com os corroteiristas Shay Hatten e Kurt Johnstad, Snyder aprofunda-se na natureza selvagem dessa mulher machucada que se defende como consegue da ofensiva de algozes poderosos, mistérios que, aparentemente, encerram-se por aqui. 

Heróis têm suas dores, e talvez essa seja a sua grande qualidade. Vencer tragédias pessoais é, em muitos casos, mais uma questão de pragmatismo que de vontade, propriamente. Há que se passar por cima daqueles sentimentos, tão destrutivos quanto resistentes, que embargam os próximos passos que poderíamos dar, que temos de dar para que a vida adquira novamente sua dimensão nobre, decisão de fato complexa, mas transformadora. Uma vez que se opta por virar-se a página, com tudo quanto pode existir de árduo nisso, a vida abre espaço para que sucedam experiência quiçá nem tão ditosas, mas com outra carga de drama, outras cores, ao menos para os que se contentam em ser simples mortais.

O homem está sempre em busca de um entendimento que lhe permita alcançar a sabedoria instintiva que o ampara para, afinal, ter alguma pista efetivamente palpável quanto a atingir o tão buscado autoconhecimento, alicerce para que vá erigindo as fortalezas que mantém sua alma a salvo da vileza do mundo. Esse primeiro estágio, moroso e doído, é só um breve amanho para que o homem chegue a uma fase ainda mais importante, a que aponta para sua autoafirmação em si. A sensação de fracasso é, inquestionavelmente, a peçonha mais corrosiva para o espírito da criatura humana, pedante e cheio de suas misérias incuráveis. 

O fantástico tem virado uma marca registrada na obra Zack Snyder, e agora o diretor aproveita para incrementar a experiência em franquias como “Army of the Dead” e continuar falando sobre tipos marginais dotados de charme invulgar, inteligência acima da média, muito senso de humor e uma personalidade gauche e magnética. Na pele de Kora, Sofia Boutella galvaniza umaa vontade de bater inimigos tão inclementes quanto os nazistas do Espaço Imperial, cujo líder Balisarius de Fra Fee ganha proeminência justamente pela capacidade de tocar a horda de desvalidos com promessas que não realiza e, claro, com estratégias de dominação à prova de erros.

Contudo, o filme mantém a energia do antecessor graças à dobradinha de Boutella e Ed Skrein, dando vida a um Atticus Noble particularmente asqueroso, que volta do inferno para acertar as contas com os fazendeiros de Veldt. Em “Rebel Moon — Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes” é uma peça de terror psicológico pós-apocalíptico bastante original, mas, a seu modo, é também romântico. Um trunfo de que Snyder sabe tirar proveito. 


Filme: Rebel Moon — Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes 
Direção: Zack Snyder 
Ano: 2024 
Gêneros: Ação/Ficção científica 
Nota: 9/10