A rivalidade entre veículos de comunicação existe desde os primórdios da imprensa. Presente há pelo menos quatro séculos, o jornalismo ganhou protagonismo na história, ajudando a construir narrativas, documentar fatos e denunciar abusos de poder, tornando-se um importante ator social e influenciando diretamente na trajetória política dos países. Sem o jornalismo, o mundo estaria obscurecido, cego e anacrônico.
O furo jornalístico é o grande motor dos veículos de comunicação. Noticiar fatos é importante, mas noticiá-los em primeira mão é esculpir a história. Na obra-prima de Steven Spielberg, “The Post: A Guerra Secreta”, na Netflix, é narrada a tentativa real de silenciamento da imprensa por parte do governo norte-americano depois da revelação de assuntos secretos do Pentágono.
Tudo começa quando o analista militar Daniel Ellberg fornece ao jornal The New York Times documentos secretos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que revelam detalhes sórdidos sobre operações e informações confidenciais sobre a Guerra do Vietnã. Depois de alguns desdobramentos da notícia, sempre estampada na capa do jornal, a Justiça determina a interrupção imediata da revelação de mais fatos relacionados ao documento sob a justificativa de conspiração e sob alegações do governo de que a exposição do caso seria uma ameaça à segurança nacional.
Censurado, o The New York Times se vê impossibilitado de continuar desdobrando a história. No entanto, graças a uma decisão arriscada e corajosa do editor executivo do jornal The Washington Post, Ben Bradlee (Tom Hanks), e principalmente da diretora executiva, Kay Graham (Meryl Streep), que herdou o veículo do pai e do marido, os documentos continuaram a ser revelados por este segundo periódico, colocando tanto o The New York Times quanto o The Washington Post, veículos concorrentes, sob julgamento na Suprema Corte.
Com estética setentista, já que a história se passa nesta década, a fotografia de Janusz Kaminski, colaborador de longa data de Steven Spielberg e ganhador de dois Oscars — por “A Lista de Schindler” e “O Resgate do Soldado Ryan” —, segue na maior parte do tempo um padrão clássico com cores neutras, mas cria jogos de luzes em momentos estratégicos, em que há necessidade de aflorar a tensão e o suspense. Os enquadramentos também auxiliam na sensação de urgência, com closes ou molduras que evidenciam quem deve se destacar na cena e suas expressões faciais. Movimentos de câmera dinâmicos, panoramas e travellings ajudam a dar ritmo às cenas.
Com roteiro de Liz Hannah e Josh Singer, a carga dramática é carregada e beira o sensacionalismo, não fossem as atuações tão extraordinárias e honestas do elenco brilhante, que ainda inclui Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Jesse Plemons, Matthew Rhys e outros.
Realizado completamente em um período recorde de nove meses, incluindo produção, gravação e edição, o filme foi realizado apenas ao longo do ano de 2017. Steven Spielberg tinha pressa em lançá-lo, pois não queria perder o timing das discussões sobre fake news. Sempre pontual e coerente, esta é mais uma obra-prima da coleção do cineasta.
Filme: The Post: A Guerra Secreta
Direção: Steven Spielberg
Ano: 2017
Gênero: Biografia/Drama/História
Nota: 9/10