Decididamente, um filme inovador e revolucionário, “O Poderoso Chefão” é cercado de lendas e controvérsias. Aliás, qual filme de Francis Ford Coppola não é? Um gênio sempre contrariado pelos estúdios, ele fundou sua própria produtora de cinema, em 1969, a American Zoetrope, junto com George Lucas, para poder finalmente fazer filmes que desafiassem o estilo tradicional de Hollywood.
Com “O Poderoso Chefão”, as coisas não foram nada fáceis. O filme, produzido pela Paramount Pictures e graças aos imensuráveis esforços de Albert S. Ruddy, contrariou todas as normas do estúdio. Com um orçamento apertado de seis milhões de dólares, o longa-metragem reviveu o gênero máfia no cinema, já considerado esgotado na década de 1970. Baseado no romance de Mario Puzzo, que também o adaptou para as telas, o filme tem uma estética sem igual e uma construção de narrativa extremamente complexa e amarrada.
A história não é linear, trazendo flashes do passado e desenvolvendo o enredo de forma densa para adicionar profundidade aos personagens centrais. A trajetória de Michael Corleone (Al Pacino) é construída minuciosamente, mostrando sua evolução como um jovem inteligente e promissor, que se torna veterano da Guerra do Vietnã e volta para os Estados Unidos encontrando sua família em uma situação vulnerável e arriscada. Ele se vê obrigado a ascender como um líder mafioso quando seu pai, o grande e poderoso Don Vito Corleone (Marlon Brando), fica incapacitado em um leito, se recuperando de um ataque de uma família adversária.
A história mostra Michael como um líder relutante de uma organização criminosa, obstinado em proteger sua família e seus aliados. Com várias subtramas orbitando em torno da principal, temos uma diversidade de personagens marcantes, diálogos extraordinários e cenas icônicas.
No primeiro filme da franquia, não conhecemos o passado de Vito Corleone, que chegou à América no primeiro quarto do século para escapar das mãos de um mafioso extremamente perigoso na Sicília, que matou sua família. Motivado a se estabelecer no novo país, Vito se envolve em pequenos crimes até finalmente mostrar sua voracidade, ousadia e determinação em construir seu próprio império.
Vito Corleone monta uma nova família para si em Nova York, mas quer que seu filho caçula, Michael, se mantenha afastado dos negócios sujos. Ele acredita que Michael tem vocação para a política. Mas os caminhos os trazem até o fatídico momento em que a família sofre um grave ataque e Michael é obrigado a se envolver na máfia para defender seu clã e proteger o legado de seu pai. A jornada de Michael Corleone é incrível, mostrando a transformação de sua personalidade, antes juvenil e alegre, para um homem sombrio, frio e orgulhoso, mas extremamente apegado a ideais, como identidade, família, lealdade e hierarquia.
Gravado em película 35mm, granulada contribuindo para uma textura densa, de cores terrosas e pouca iluminação, o filme é um marco na estética do cinema de máfia. Os jogos com luzes e sombras criam máscaras sobre os rostos, dando ao espectador pistas sobre as emoções e intenções de seus personagens, além de construir uma atmosfera de suspense. Os enquadramentos são milimetricamente pensados para enfatizar poder, autoridade ou opressão.
Além disso tudo, vale ressaltar a espetacular trilha sonora de Nino Rota, que carrega a trama de emoção e cria um ambiente cheio de significados e mensagens. O filme foi indicado em 11 categorias do Oscar e levou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para Marlon Brando. Francis Ford Coppola criou a obra perfeita e ela se chama “O Poderoso Chefão”, que agora está na Netflix remasterizada em 4K.
Filme: O Poderoso Chefão
Direção: Francis Ford Coppola
Ano: 1972
Gênero: Policial/Drama
Nota: 10