Duas das melhores coisas da vida: viagens e boas amizades. Quando é possível unir ambas, o resultado são aqueles momentos que dez anos depois ainda rendem risadas e despertam saudade em reencontros regados a vinho e fotografias. A vida adulta, porém, apresenta obstáculos outrora inexistentes. Foi-se o tempo em que o mês de julho era período certo de descanso e aventuras com a turma. E, na impossibilidade de sincronizar férias, saldo bancário e disposição da galera, o passeio dos sonhos é postergado ano a ano. A família também não pode, o namorado não quer (ou não existe), a companhia aérea não aceita cachorro no voo, você coloca seus planos no fundo da mala e pensa: “ok, pode ser legal passar as férias assistindo a seriados e organizando o armário”. Seus problemas acabaram. Vamos falar de coisa boa? Viajar sozinha! É incrível, é viável e, sobretudo, é libertador.
Há seis meses fiz a segunda melhor viagem da minha vida. Há três, a melhor. A viagem “medalha de prata” foi para o México, ao lado das cinco melhores amigas que alguém pode ter. Juntas, nos encantamos com a exuberância das praias caribenhas, brindamos com drinks coloridos, desbravamos a Riviera Maya em um carro improvisado cantando nossas músicas preferidas. Choramos de rir com nossas idiotices, dançamos como loucas na melhor balada do mundo, compartilhamos conselhos e roupas. Tinha tudo para ser a viagem número 1. A questão é que pouco depois decidi colocar a mochila nas costas e seguir para o Peru sozinha, com pouco dinheiro na bolsa e muito entusiasmo no peito. Foi quando o combo autoconhecimento/superação/liberdade conquistou o primeiro lugar no pódio dessas minhas andanças por aí.
A meu ver, nada é melhor do que a troca de experiências, nada supera a beleza das relações. Vemos no outro o espelho ou a contraposição do que somos e, através do convívio, a vida ganha significado. Não faria, portanto, a defesa da solidão em qualquer circunstância. Entretanto, olhar para dentro e encontrar ali o que tantas vezes é procurado fora é um presente que todos deveriam se dar. Ao viajar sozinha a mágica acontece. Você encontra na autonomia dos seus passos a chave para ser quem quer e viver o que pretende. Descobre que não existe o que seja poderoso o suficiente para barrar suas escolhas. E tudo isso enquanto passam pelo seu caminho pessoas que de outra forma você jamais conheceria. Uma janela de novos diálogos e culturas é aberta, tirando você da rota óbvia dos lugares comuns. Sozinha, mas jamais solitária, você percebe que o mundo oferece infinitas possibilidades de conexões. E como isso faz bem!
O meu desejo hoje? Viajar com minhas amigas novamente. Minhas boas lembranças? A primeira vez que vi o mar ao lado da minha família em Guarapari, as férias na Disney aos 15 anos em uma excursão cheia de gente, o romantismo da viagem para a Serra Gaúcha com um ex-namorado… Mas foi nas montanhas do Peru, estruturada em minha coragem e minha vontade de ir além dos limites que me cercam, que senti a genuína sensação de paz e de força. Escalando Machu Picchu uma senhora da Califórnia que também viajava sozinha olhou para mim, sorriu e disse: “The world is a good place”. Acenei concordando. É realmente um lugar fantástico. Faça já as malas e vá comprovar isso de perto tendo “apenas” você e o mundo inteiro como extraordinárias companhias.