O filme da Netflix que virou um fenômeno global e é o mais visto do momento Loris T. Zambelli / Netflix

O filme da Netflix que virou um fenômeno global e é o mais visto do momento

Com óbvias referências estéticas da saga “Crepúsculo”, o novo fenômeno teen “O Fabricante de Lágrimas” chegou recentemente à Netflix. Baseado no best-seller global da escritora italiana que atende pelo pseudônimo Erin Doom e que virou sucesso no Wattpad, ele chegou a tomar o lugar de Elena Ferrante no ranking italiano de vendas de 2022. Não é difícil imaginar por que a história se tornou um sucesso absoluto entre adolescentes. A atmosfera gótica e tristinha parece mesmo ter um lugar especial no coração dos adolescentes, que fazem questão de se sentirem rebeldes e incompreendidos.

Mas é engraçado que o filme agregue todos os elementos que tornam “Crepúsculo” um sucesso comercial e um fracasso intelectual: ambos possuem galãs pálidos e misteriosos com penteados estranhos; mocinhas lindíssimas disfarçadas de beleza comum; aquela atmosfera emo; e diálogos constrangedores. Dirigido por Alessandro Genovesi, o filme emplacou, logo na primeira semana, o número 1 do ranking global da Netflix. Já era de se esperar, já que na comunidade #BookTok do TikTok o livro é idolatrado.

O enredo gira em torno de Nica (Caterina Ferioli), uma garota que ficou órfã depois de perder os pais em um acidente de carro. Ela foi parar no Grave, um orfanato de arquitetura barroca e obscuridade medieval dirigido por Margaret (Sabrina Paravicini), uma mulher rigorosa e assustadora, uma espécie de tia Lydia de “O Conto da Aia”, que é obcecada pelo pupilo Rigel (Simone Baldasseroni), órfão desde o nascimento e pianista talentoso.

Dentre todas as crianças do orfanato, Rigel é o favorito de Margaret e, portanto, é poupado de seus castigos e torturas. Por outro lado, Nica cresceu traumatizada pelo tratamento de ferro ofertado pelo lugar. Os dois nunca se deram bem na infância, mas, quando crescem, acabam adotados pelo mesmo casal, Anna (Roberta Rovelli) e Norman (Orlando Cinque), que perderam recentemente um filho. Agora, Nica e Rigel precisam fingir que se dão bem para serem aceitos pela nova família. No entanto, sentimentos há muito tempo guardados começam a aflorar, despertando um romance inebriante entre os dois órfãos.

Com o tempo, segredos do passado são revelados, mostrando que Rigel há muito tempo tem resistido aos sentimentos secretos que tem por Nica, explicando toda a relação conturbada entre eles. Além disso, eles precisam enfrentar a adaptação à escola, à nova casa e deixar todas as dores do passado para trás. Mas a história toma rumos trágicos quando um novo pretendente da escola ameaça Nica e Rigel ao saber do romance deles.

Com diálogos exagerados, uma estética gótica e esfumaçada e nomes de personagens e lugares estranhamente americanizados, “O Fabricante de Lágrimas” tenta reproduzir, sem garantir qualidade meramente similar, os produtos hollywoodianos. Uma receita pronta, clichês pobres e gente bonita na tela parece ser suficiente para agradar um determinado grupo de espectadores. Além disso, essa falta de identidade nos deixa perdidos, sem sentir que essa história pertence a qualquer pessoa, cultura ou lugar. É difícil encontrar algo que nos faça sentir conectados aqui. Além disso, não há química entre o casal de protagonistas, fazendo com que o romance pareça forçado e pouco natural.


Filme: O Fabricante de Lágrimas
Direção: Alessandro Genovesi
Ano: 2024
Gênero: Drama/Fantasia/Romance
Nota: 7/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.