A escolha entre variadas opções, embora não seja uma tarefa simples, nos posiciona diante da expectativa da sociedade sobre nós, especialmente à medida que avançamos na vida e a necessidade de reflexão sobre nossas ações se torna mais premente. Essa introspecção frequentemente desvenda verdades incômodas e inquietações que exigem uma gestão cuidadosa dos dilemas internos e dos desafios éticos que surgem. A narrativa de “Polar”, inspirada na graphic novel de Víctor Santos, “Polar: Came from the Cold”, e dirigida por Jonas Åkerlund em 2019, segue Duncan Vizla, interpretado por Mads Mikkelsen. Vizla é um matador profissional que se encontra à beira da retirada de sua carreira após anos de atividade.
Contrariamente a um cenário em que esses serviços fossem prestados por um cidadão exemplar em um contexto respeitável, a realidade é outra. A corporação criminosa para a qual Vizla dedica sua expertise não permite que seus contratados ultrapassem os cinquenta anos, devido aos riscos associados ao declínio físico, apesar de reconhecer os serviços prestados com uma aposentadoria quase integral.
Era incomum que indivíduos desse perfil chegassem a tal longevidade profissional, o que antes resultava em benefícios financeiros significativos para a organização liderada por Blut, interpretado por Matt Lucas, cuja vileza é notoriamente representada. No entanto, a tenacidade de Vizla e de outros como ele começa a desafiar as expectativas da liderança da quadrilha. Em resposta, Blut considera enviar um grupo de quatro assassinos à Bielorrússia para eliminar Vizla, que é levado a crer que essa equipe seria sua companhia em sua última missão.
A trama se desenrola quando Vizla descobre o verdadeiro propósito do grupo e os neutraliza, garantindo assim os dois milhões de dólares a que tem direito. Posteriormente, ele se retira para Triple Oak, uma pacata localidade em Montana, onde se distancia das ameaças e pode contemplar um novo início. Lá, Vizla encontra Camille, vivida por Vanessa Hudgens, que inicialmente parece oferecer um vislumbre de redenção por meio do amor, mas que eventualmente revela surpresas que adicionam complexidade à história.
“Polar” se apropria de uma trama reconhecível, a do criminoso enganado que busca retaliação, mas Åkerlund consegue criar uma obra que se destaca, em parte graças ao trabalho de fotografia de Pär M. Ekberg, que opta por uma estética que vai além do convencionalmente sombrio. Mikkelsen brilha no filme, navegando habilmente entre elementos de violência gráfica e sensualidade explícita, e elevando a produção a uma experiência sensorial onde cores, luzes e sons desempenham papéis cruciais conforme a narrativa se desdobra. A participação de Richard Dreyfuss em um papel intrigante, embora breve, adiciona uma camada de profundidade à película, distinguindo-a não necessariamente como a melhor em seu gênero, mas certamente como uma das mais audaciosas em sua fusão de elementos visuais e temáticos.
Filme: Polar
Direção: Jonas Åkerlund
Ano: 2019
Gêneros: Ação/Suspense
Nota: 8/10