Woody Allen é, sem dúvida, um dos cineastas mais prolíficos da história, e grande parte de seu trabalho é de alta qualidade. Também é inegável que sua “era de ouro” tenha passado, e suas últimas produções têm ficado aquém do esperado. Mas entre os anos 1970 e 1980, ele estava no auge, período em que alguns de seus melhores filmes foram lançados. Embora muitos longas-metragens daquela época tenham se destacado, nenhum foi tão adorado quanto “Annie Hall” ou, em sua tradução, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Vale destacar outras obras-primas da época, como o hilário “A Última Noite de Boris Grushenko”, o mais dramático e introspectivo “Interiores” e o delicioso “Manhattan”, entre outros. Há tanta coisa boa na filmografia de Woody Allen que é impossível amar apenas um filme.
Em uma entrevista, o cineasta disse que a edição final de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” foi uma decepção para ele, pois ficou completamente diferente do que havia idealizado. A verdade é que a história era, inicialmente, um mistério, contendo um assassinato e outros elementos. Mais tarde, Woody Allen reviveu a ideia primordial em “Um Misterioso Assassinato em Manhattan”. Vencedor das principais estatuetas da Academia em 1978, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” foi o segundo filme mais curto a levar o prêmio de Melhor Filme da Academia, ficando atrás apenas de “Marty”, de Delbert Mann, que tem 90 minutos de duração. O filme de Allen tem 93 minutos e também levou Oscars nas categorias de Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original.
O essencial na filmografia e também nas publicações literárias de Woody Allen é sua bagagem cultural, que é extremamente extensa. Um intelectual de primeira linha, ele consegue fazer o humor e o intelectualismo interagirem de forma extremamente sagaz e dinâmica. Além disso, ele criou um novo estilo de cinema, no qual a estrutura do enredo não necessariamente envolve um evento extraordinário na vida do protagonista que o retire de seu caminho, mas eventos cotidianos, muitas vezes tratados como insignificantes ou sequer mostrados em outros filmes. Também é notável o uso de longos diálogos, que são a estrutura fundamental desses filmes, moldando a história ao seu redor.
Em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, no Prime Video, acompanhamos a dinâmica do relacionamento entre Alvy (Allen) e Annie Hall (Diane Keaton), desde o momento em que se conhecem até aquele em que sua relação se esfria. O personagem de Alvy personifica um estereótipo criado por Allen para seus filmes. É como se seus protagonistas mudassem de nome e idade, mas jamais mudassem sua personalidade. Todos eles são ou possuem traços de Alvy Singer, em sua natureza muitas vezes egocêntrica, neurótica, hipocondríaca, engraçada e histérica. Annie Hall é igualmente uma espécie de estereótipo traçado para as mocinhas de seus filmes, sendo sempre bonitas, jovens, ingênuas e inteligentes.
Alvy é um comediante de stand-up de meia-idade que se apaixona pela jovem cantora interpretada por Keaton. Como um mentor, ele quer ensiná-la o que ler, assistir e gostar — assim como Elliot, interpretado por Michael Caine, com Lee, interpretada por Barbara Hershey, em “Hannah e Suas Irmãs”. É incrível como Woody Allen constrói sua narrativa em torno de trivialidades, como uma conversa na cama, no bar ou na fila do cinema. É sempre uma conversa; não há muita ação por aqui. As lentes das câmeras flutuam e pousam em pontos da cidade de Nova York, sempre trazendo-a para o centro e transformando-a em um terceiro personagem.
Filme: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
Direção: Woody Allen
Ano: 1977
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 10