Os momentos da vida em que a gente se sente foda são poucos. E quase sempre que acontece algo que faz a gente se achar foda quase ninguém está vendo. Eu lembro de dois momentos em que me senti foda, e nas duas oportunidades, pouca gente testemunhou ou prestou atenção.
A primeira vez foi há muito tempo, quando eu era adolescente e jogava futebol de salão. Faz tanto tempo que o jogo nem se chamava futsal ainda e não valia fazer gol dentro da área. Minha posição era ala direita e eu era considerado um bom jogador, habilidoso, bom passe, chutava com as duas pernas (uma de cada vez). Jogava pela Hebraica e o nosso time estava bem naquele ano, não chegava a disputar o título, mas ficava ali entre o terceiro e quarto lugar, fazendo aquele papel de time que atrapalha os que estão disputando o título. E foi no jogo contra um time que disputava o título, o Fluminense, logo o meu time de coração, que aconteceu o momento em que me senti foda. Não, não foi um golaço ou uma jogada espetacular. Na verdade, eu não podia jogar naquele dia, estava contundido. Mas fui lá dar uma força para os meus companheiros. Antes do jogo começar eu fui ao banheiro esvaziar a bexiga. Quando já estava saindo do banheiro, um menino chegou perto de mim. Ele era bem baixinho, devia ter uns 8 anos no máximo e vestia uma camisa do Fluminense. O menino então me perguntou:
— Você que é o Beto, que joga na Hebraica né?
— Sou eu mesmo.
— Você não vai jogar, né?
— Não, eu estou machucado.
— Beleza! — Ele gritou e pulou como se estivesse comemorando um gol. E saiu do banheiro correndo para espalhar a notícia para os seus amiguinhos.
Nunca ninguém deu tanta importância ao meu futebol quanto aquele torcedor adversário. E eu, mesmo sem jogar, me senti um jogador foda, muito mais foda do que quando eu jogava!
O Outro momento em que me senti foda já foi depois que o “Casseta & Planeta” fazia sucesso. Mas não foi quando recebemos algum prêmio ou uma crítica boa ou mesmo quando tivemos um Ibope alto. O momento em que me senti mais foda foi quando eu apareci numa palavra cruzada! Isso é que é sucesso! Estava lá, na última linha: Humorista do Casseta & Planeta. E o meu nome que cabia certinho: Beto Silva. Foi a minha consagração.