Ao completar setenta anos em 2017, Stephen King testemunhou a transformação de suas histórias em filmes memoráveis. Dentre eles, destacam-se “It — A Coisa”, com seu assustador palhaço, sob a direção de Andy Muschietti; a saga “A Torre Negra”, interpretada por Nikolaj Arcel, que narra a jornada de um homem em busca de seu propósito; e “Jogo Perigoso” de Mike Flanagan, que explora as complexidades de um casal em crise. No entanto, foi “1922”, sob a batuta de Zak Hilditch, que se destacou por sua habilidade em capturar a essência das narrativas de King.
Zak Hilditch se destaca entre seus contemporâneos pela sua habilidade única em capturar o universo de King em tela, uma façanha que deve muito ao próprio autor. Ambientado em campos de milho sob um sol radiante, “1922” apresenta uma narrativa sombria em contraste com sua bela paisagem, capturada magistralmente pelo diretor de fotografia Ben Richardson. O filme é uma celebração estética, e Hilditch usa essa força visual para elevar a história, apoiado por um elenco talentoso liderado por Thomas Jane.
Thomas Jane brilha como Wilfred James, um fazendeiro preso às terras que herdou e viveu toda a sua vida em Nebraska. A história se intensifica quando Arlette, interpretada por Molly Parker, deseja vender sua parte da fazenda, desencadeando um conflito profundo com Wilfred, que valoriza a terra acima de tudo. O que começa como uma disputa conjugal escala para uma tragédia familiar, com Wilfred e seu filho Henry, interpretado por Dylan Schmid, tomando decisões que mudarão suas vidas para sempre.
“1922” é uma reminiscência dos contos góticos clássicos, como os de Edgar Allan Poe, e evoca temas morais complexos semelhantes aos encontrados em “Crime e Castigo” de Dostoiévski. A luta interna de Wilfred e a culpa esmagadora que sente pela morte de Arlette o consomem, especialmente após o desaparecimento de Henry, deixando-o para enfrentar suas próprias sombras.
Conforme a história de “1922” se desenrola, Hilditch habilmente guia o público através da desintegração psicológica de Wilfred, cuja incapacidade de enfrentar as consequências de seus atos o leva a um isolamento torturante. Este não é apenas um filme de terror, mas um estudo profundo do arrependimento e da redenção, magnificamente interpretado por Thomas Jane.
Além de ser uma reflexão sobre a fragilidade humana e os erros fatais, “1922” também dialoga com outros trabalhos de King, como “O Iluminado”, destacando-se por sua habilidade em contar uma história cativante sobre a complexidade dos relacionamentos e as sombras que podem surgir de compromissos desgastados. Zak Hilditch entrega uma adaptação magistral das obras de King, focando em temas universais de amor, perda e consequência.
Filme: 1922
Direção: Zak Hilditch
Ano: 2017
Gênero: Terror/Drama
Avaliação: 9/10