A noção de redenção, essa intricada questão que cada indivíduo enfrenta seguindo seus valores pessoais, manifesta-se como um conceito de profundas dimensões individuais. A genuína contrição seguida por uma transformação pessoal em resposta a erros e adversidades passadas pode desencadear uma reviravolta notável na vida de uma pessoa. Este caminho singular, embora possa parecer trivial, frequentemente atua como o catalisador de mudanças significativas na sociedade. Tal narrativa celebra heróis inesperados, indivíduos ordinários que, a despeito de suas falhas, tornam-se figuras notáveis ao assumirem um papel de protetores ou aliados da coletividade.
Essa dinâmica é magistralmente retratada no longa-metragem “A Lista de Schindler”, frequentemente descrito por especialistas como uma das produções mais íntimas do ilustre cineasta Steven Spielberg. O filme narra as vivências de Oskar Schindler, um industrial tcheco que manteve laços com figuras de alto escalão do regime nazista, empregando judeus em sua companhia durante a ocupação do Gueto de Cracóvia, no decorrer da Segunda Guerra Mundial.
Apresentado como um personagem complexo — um sedutor, sagaz e de moral questionável —, Schindler é exibido com uma aguçada perspicácia para os negócios e a política. Ele se associa ao Partido Nazista, movido não por convicções ideológicas, mas pela visão de uma vantagem financeira. Apesar de seus vícios, Schindler logo estabelece uma fábrica de utensílios esmaltados, empregando predominantemente trabalhadores judeus.
Contudo, distante dos estereótipos de salvadores idealizados presentes nos registros históricos, Schindler era um empresário movido por um código de ética próprio. Com uma narrativa rica em nuances, Spielberg expõe a essência de Schindler: um homem que, mesmo diante de suas supostas boas intenções, tinha o lucro como sua principal motivação. Ele se instala em Cracóvia, no sul da Polônia, com o intuito de se beneficiar da mão de obra judaica a baixo custo, prometendo, em troca, um amparo jurídico que nem sempre se concretizava.
A interpretação envolvente de Ben Kingsley, no papel de Itzhak Stern, o contador e assessor pessoal de Schindler, confere maior densidade à trama. Spielberg se detém na intrincada relação entre Stern e Schindler durante a elaboração da célebre lista que determinaria o destino de 1.200 judeus, posteriormente conhecidos como “judeus de Schindler”.
Apesar de seu foco nos negócios, Schindler se tornou um dos grandes benfeitores históricos, salvaguardando mais de mil judeus das atrocidades nazistas. Ao longo dessa jornada, ele enfrentou detenções e viu sua riqueza se dissipar devido à redução na produção e aos seus exorbitantes gastos pessoais.
Rodado em preto e branco, o único elemento em cor é o casaco vermelho de uma garotinha, uma escolha simbólica de Spielberg para representar as vítimas do Holocausto. A cena da menina de casaco vermelho, bem como o próprio nazismo, são elementos indiscutíveis da história, apesar de haver quem ainda tente refutá-los, desconsiderando as provas existentes.
A trajetória da menina, cujo casaco vermelho ressalta em meio a um panorama cinzento e preto, evoca de maneira contundente as mais de seis milhões de vidas judaicas exterminadas pela violência nazista. Spielberg, que veio ao mundo um ano após o término da Segunda Guerra Mundial e possui ascendência judaica, poderia ter sido uma das vítimas. Esse laço pessoal do diretor com o evento histórico reforça seu empenho em retratar o horror do Holocausto de forma fiel e respeitosa.
Por meio deste olhar atento, Spielberg percorre os sombrios corredores da perversidade de Hitler, abordando temas até então pouco explorados no cinema. “A Lista de Schindler” não só destaca a humanidade e a bravura de Oskar Schindler mas também serve como um lembrete das atrocidades que os seres humanos são capazes de cometer.
Filme: A Lista de Schindler
Direção: Steven Spielberg
Ano: 1993
Gêneros: Biografia/Drama
Nota: 10