Bill Nighy é um ator tão generoso, que sempre compartilha com o público emoções verdadeiras. Seus personagens parecem tão bem integrados à trama e a química com seus companheiros de tela é bastante perceptível. Em “Jogo Bonito”, de Thea Sharrock, ele traz novamente essa sensação de encaixe perfeito. Suas expressões são puras. Sua entonação de voz é uma mistura de ingenuidade e deboche, mas também sabe ser profunda quando necessário.
No drama esportivo que narra a história de um time inglês de futebol formado por homens desabrigados, Nighy é Mal, um técnico que reúne um grupo diversificado de pessoas para participar, em Roma, da Copa do Mundo dos Sem-Teto, um campeonato de futebol que existe de verdade. No meio desse time de jovens com histórico problemático, está Vinny (Michael Ward), um verdadeiro talento que se considera superior aos demais integrantes. Não apenas porque é um jogador de qualidade profissional, mas porque não se considera um “desabrigado”.
Vinny tem família, mas está perdido e perambulando sem rumo na vida devido a problemas pessoais. O personagem é um tanto quanto pedante, agressivo e irresponsável, saindo tempestivamente das conversas, não comparecendo aos momentos de confraternização do grupo, expondo verdades dolorosas na cara dos amigos, diminuindo-os. Vinny não merece fazer parte do grupo, mas Mal quer ensiná-lo uma lição.
O mundo nem sempre é um lugar justo. Nossos talentos e esforços nem sempre são recompensados. Vinny é jogador de futebol desde criança e sempre foi visto como um jovem promissor. No entanto, quando o tempo de ele ser lançado à carreira profissional vem, as coisas não engatam. “Ele talvez simplesmente não seja bom o suficiente”, diz Mal. E essa pode até ser a verdade. Mas a vida prega mesmo esse tipo de peça fazendo muita gente se sentir inútil, fracassada, envergonhada.
Enquanto Vinny luta para não se encaixar no grupo, pois não acha que seja tão amador ou fracassado quanto eles, ele recebe amor, carinho e aceitação dos companheiros. Nathan (Callum Scott Howells) é um ex-usuário de drogas que luta para se manter sóbrio e também para ser aceito por Vinny. Há também Aldar (Robin Nazari), um refugiado sírio que está sem casa porque teve que deixar seu país, seu lar, sua família. Cada tem um tem uma história impactante e todos parecem aceitar suas diferenças, exceto Vinny. E é em torno do aprendizado dele, sobre aceitar a história de cada um, inclusive a própria, e trabalhar em equipe, que o enredo toma contornos.
Mas a equipe inglesa não é a melhor. O time sul-africano pode até ser o que mais passa por adversidades, mas o clube liderado pela Irmã Protasia (Susan Wokoma), uma freira católica, é o mais otimista, bem-humorado e competitivo do torneio. Em meio a todo o drama, é ela que quebra a tensão e traz um pouco de alívio cômico à história.
Com lições bonitinhas e com um estilo de sessão da tarde, “Jogo Bonito”, na Netflix, é um entretenimento para toda a família e um passatempo satisfatório, com boas atuações e um enredo emocionante, para o tempo livre.
Filme: Jogo Bonito
Direção: Thea Sharrock
Ano: 2024
Gênero: Drama/Esporte
Nota: 8/10