Reuniões para marcar reuniões

Reuniões para marcar reuniões

O ser humano inventou um monte de coisas legais, outras nem tanto e algumas até ridículas, mas, sem nenhuma dúvida, uma das invenções mais estranhas do ser humano foram as reuniões, esses encontros entre pessoas que não se conhecem direito, não queriam muito se encontrar, mas que foram praticamente obrigadas a se juntar para discutir quase sempre algum assunto difícil e desagradável.

Você já ouviu falar em reuniões de lazer? Não, mas quase todos os dias as pessoas são chamadas para reuniões de trabalho. Já foi chamado para uma reunião para discutir como vamos nos divertir?  Não, mas são várias as reuniões para debater como nos aporrinharemos com uma tarefa que não queremos fazer. Nenhuma atividade legal que o ser humano faz tem necessidade de reuniões, mas nos lugares chatos sempre existe uma reunião importantíssima inadiável para ser convocada. E quase sempre o único objetivo dessa reunião é convocar a próxima reunião.

No entanto, existem dois tipos de reuniões que chamam a atenção por revelarem a total impossibilidade de convivência de seres humanos nesse tipo de encontro: as reuniões de condomínio e as reuniões de pais de alunos.

Reuniões de condomínio são aquelas em que pessoas que mal se conhecem, que nunca se encontraram fora do ambiente dos elevadores, se juntam para tomar decisões importantes e, na maioria das vezes, criticar as decisões tomadas na última reunião quando não puderam comparecer por não estarem com o menor saco para aguentar mais uma reunião de condomínio.

O resultado de muitas reuniões de condomínio são brigas tão complicadas que a partir desse momento os moradores não conseguem mais conviver nem no ambiente dos elevadores. 

Reuniões de pais de alunos são aquelas que juntam na escola os pais e mães de alunos de uma mesma série para que os professores e diretores expliquem o que estão fazendo com os seus pimpolhos. E quase sempre o que acontece é que pais e mães pedem a palavra para falar de seus filhos, como eles são gente boa e sensíveis, como eles são legais e diferentes e que não entendem o motivo de a escola querer reprová-los de novo.   

Meus filhos já são adultos, há muito tempo não vou a uma reunião destas, mas me lembro de uma vez que não pude ir a uma reunião de pais por conta do trabalho. Mais tarde perguntei para minha mulher como tinha sido a reunião e ela contou que tinha rolado um tremendo barraco. Eu pedi detalhes e ela desfilou os pormenores da brigalhada, enquanto eu escutava entusiasmado. achei que aquela reunião devia ter sido muito boa, pelo menos enquanto entretenimento.

Na reunião seguinte eu já sentei animado ao lado de minha mulher, esperando o “show” começar. A diretora iniciou a reunião, falou da pauta e o tal tema quente da reunião anterior não foi anunciado, acho que deram por resolvida a questão. Mas quem sabe um novo tema polêmico surgia?

Depois de uns quarenta minutos bem chochos de reunião, eu resolvi me levantar para esticar a perna e fui para perto de uma janela, pegar um arzinho. Havia um outro pai ali. Começamos a conversar:

— Você veio na última reunião? — Eu puxei assunto.

— Não, não pude vir. Parece que rolou o maior barraco.  

Ele respondeu.

— Eu também não pude vir. Achei que hoje ia continuar o barraco.

— Eu achei o mesmo.

— Na verdade, eu só vim por isso.

— Eu também!

— Mas hoje está calmo, né?

— É, tá chata. Uma decepção!

— Será que ainda rola uma briguinha?

— Será? Vamos torcer!

— Estou aqui fazendo figa!

Na torcida, voltamos para os nossos lugares. E assistimos ao resto da entediante reunião de pais, uma das reuniões mais comportadas, civilizadas e chatas do ano. Na reunião seguinte eu não pude ir. E parece que o pau cantou de novo.