Considerado o filme perfeito, a história de amor assistida por 600 milhões de pessoas está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Considerado o filme perfeito, a história de amor assistida por 600 milhões de pessoas está na Netflix

Narrar uma história que desperte no público uma sensação de esperança, apesar da seriedade dos temas abordados, é um desafio considerável, pois alcançar uma harmonia ideal entre diversão e reflexão não é simples. “O Lado Bom da Vida” evita o equívoco de atrair a atenção do público de forma ingênua, apoiando-se em personagens principais de grande carisma, cuja relevância tanto artística quanto comercial é inegavelmente crescente em Hollywood. O filme se destaca como um romance fora do comum, oferecendo uma perspectiva fresca em meio a tantas tentativas fracassadas de atribuir profundidade emocional a narrativas amorosas de qualidade questionável.

Em uma de suas criações mais inspiradoras, David O. Russell reúne dois ícones jovens e atraentes do cinema moderno, desafiando-os a interpretar personagens deslocados, enfrentando graves desafios psiquiátricos, potencialmente repulsivos, e, a partir dessa base, refiná-los, desvendando a essência do que desejam comunicar. Lançado no Brasil em fevereiro de 2013, o filme mostra um Bradley Cooper bastante distinto de seus papéis habituais desde sua estreia na série “Sex and the City” em 1999, salvo raras exceções. Cooper, construindo meticulosamente sua carreira, pode ter encontrado em “O Lado Bom da Vida” o ápice de seu percurso profissional, interpretando o professor Patrizio Solitano Jr., também conhecido como Pat, num papel quase pioneiro.

Abordando a questão do distúrbio mental em um homem que, após um incidente traumático, não consegue retomar sua vida anterior, Russell estava ciente dos riscos envolvidos. De forma sutil, o filme sugere que Pat supera esse episódio — uma abordagem que Russell executa com maestria — e as consequências desse ato impulsionado pela necessidade de manter sua honra têm um preço alto para ele. O protagonista é confinado em uma instituição psiquiátrica por oito meses, perde seu emprego e, paradoxalmente, continua a amar sua esposa, Nikki, interpretada por Brea Bee, apesar de todas as adversidades. Obrigado a manter distância dela, Pat acaba morando com seus pais, Dolores, interpretada por Jacki Weaver, e Pat Sr., papel de Robert De Niro, cuja atuação não atinge as expectativas, especialmente em comparação com Weaver.

A história ganha um novo impulso com a entrada de Jennifer Lawrence, cuja personagem Tiffany, viúva prematuramente, responde ao trauma de maneira controversa, o que também resulta em sua demissão. Pat e Tiffany são apresentados em um jantar, e rapidamente se percebe a atração mútua, evidenciada por suas peculiaridades compartilhadas.

A dinâmica entre Pat e Tiffany, alternando entre vilões e heróis, é central para a narrativa. Eles desafiam os pilares da sociedade de formas distintas, resultando em personagens complexos que desafiam julgamentos precipitados. A abordagem de Russell, tratando Pat como um indivíduo perturbado por reagir de maneira compreensivelmente humana a uma traição, e a autodestruição de Tiffany, são fundamentais para a trama. Ambos são isolados por suas ações, cercados por suas circunstâncias.

Conforme Pat e Tiffany se aproximam, descobrem afinidades e divergências. Pat, apesar de sua situação, mantém seu amor por Nikki, enquanto Tiffany, astutamente, vê uma oportunidade de se conectar com ele. Pat decide escrever uma carta a Nikki, e Tiffany se propõe a ajudar, com a condição de que Pat a acompanhe em um concurso de dança. O que se segue são performances excepcionais de ambos os atores, destacando-se a química entre eles, que vai além da amizade e resulta em momentos memoráveis no filme, culminando em uma apresentação de dança notavelmente única.

“O Lado Bom da Vida” transcende a mera exibição de talentos individuais, evitando a armadilha da rivalidade de egos. Todos os componentes da narrativa trabalham em sinergia, criando uma experiência coesa e completa que ressoa profundamente com o tema da reconstrução pessoal e da reconfiguração dos laços afetivos, mesmo frente às adversidades mais inesperadas. A habilidade de Russell em tecer essas histórias individuais em um mosaico mais amplo de superação e humanidade é notável, conferindo ao filme uma autenticidade que cativa e inspira. Através das jornadas de Pat e Tiffany, “O Lado Bom da Vida” oferece uma perspectiva otimista e realista sobre a possibilidade de renovação e redescoberta, fazendo com que o espectador reflita sobre a resiliência do espírito humano e a importância do apoio e da compreensão mútua. Este filme não apenas entretém, mas também convida à reflexão sobre a complexidade da vida e a beleza que pode surgir das circunstâncias mais desafiadoras, deixando uma impressão duradoura de esperança e perseverança.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10