Como uma entidade em constante evolução, a sociedade enfrenta seus próprios desafios e adversidades, levando ao surgimento de soluções que, por vezes, revelam-se falhas. Dentro deste contexto, o suspense canadense “O Declínio”, lançado em 2020, transita entre a realidade e a ficção. Dirigido por Patrick Laliberté em sua estreia em longas-metragens, o filme aborda os temores gerados pela perspectiva de sobrevivência em ambientes hostis, uma realidade que ganhou novos contornos com a pandemia global.
O filme se desenvolve de maneira sutil, construindo o suspense gradualmente até um ponto de inflexão que mantém a atenção do espectador. Laliberté insere elementos que desviam a atenção no início, ao narrar a jornada de Antoine, interpretado por Guillaume Laurin, de Montreal a Laurentian, uma área montanhosa perto de Québec. Antoine está convencido de que o fim do mundo está próximo, ameaçado por guerras e vírus, levando ao colapso social. Ele se considera afortunado por ter sido convidado por Alain, vivido por Réal Bossé, para fazer parte de um grupo treinado para sobreviver a catástrofes globais. A propriedade preparada para o treinamento possui infraestrutura completa para sustentar a vida em caso de emergência.
Antoine e seus colegas, François (Marc-André Grondin), Anna (Marilyn Castonguay), Sebastien (Guillaume Cyr) e David (Marc Beaupré), compartilham preocupações sobre o futuro do planeta, embora a dinâmica entre eles revele diferenças significativas. David exibe uma obsessão pelas armas e uma inclinação para a violência, enquanto Rachel (Marie-Evelyne Lessard), ex-militar, mostra-se inflexível e marcada pela perda de seu companheiro em combate.
O filme explora a ideia de conformidade grupal, influenciada pelas teorias de comportamento coletivo e instintos, sugerindo que mesmo indivíduos como Rachel podem se submeter a uma liderança questionável até certo ponto. A comunidade se assemelha a uma seita liderada por Alain, cujas intenções ocultas são apoiadas por seguidores fanáticos.
As coisas começam a se complicar durante um exercício de treinamento com armas, desencadeando uma série de eventos que desafiam a coesão do grupo. O dilema sobre informar a polícia acerca de um incidente que ocorreu durante o treinamento ameaça expor Alain como um lunático perigoso, trazendo consequências legais graves.
A narrativa se intensifica quando o grupo se divide, e a tensão entre os personagens aumenta, impulsionada por um desempenho convincente do elenco e uma narrativa ágil. O filme não reserva surpresas para o final, mas oferece uma reflexão sobre dilemas políticos e morais, sem tomar partido. A abordagem neutra da violência, no entanto, pode atenuar o impacto do filme, apesar de sua execução competente e das paisagens canadenses capturadas de maneira impressionante por Christophe Dalpé.
Filme: O Declínio
Direção: Patrick Laliberté
Ano: 2020
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 9/10