O diretor de Duna não gosta de diálogos. E daí? Nós gostamos!

O diretor de Duna não gosta de diálogos. E daí? Nós gostamos!

Eu realmente gosto do Dennis Villeneuve. “A Chegada” é um belo filme. E ele conseguiu fazer uma ótima continuação de “Blade Runner”, algo que parecia impossível. Mas ele falou uma bela, uma gigantesca bobagem em uma entrevista para o jornal “The Times of London”: “Eu odeio diálogo. Diálogo é pra teatro e televisão”. Se você, leitor, quiser ver um resumo da entrevista, procure por Denis Villeneuve + Movies Have Been Corrupted by Television. Vários sites republicaram as falas dele. Dennis, quer uma dica? Apaga isso, cara.

Na entrevista você fala do sonho de fazer um filme sem uma linha de fala. Boa sorte, garotão. Duvido que o grande público veja. É possível fazer filmes só com sons e imagens? Sim, é. Mas seria fácil fazer um troço desses funcionar com a plateia? Não. Quer uma prova disso? Simples: até filmes mudos tinham falas e diálogos que apareciam em cartelas.

Dennis, tá cheio de diretor querendo ganhar audiência com efeitos e imagens bombásticas. E alguns dos filmes que eles fazem são um porre. Pior: são fracassos retumbantes. “Matrix”, da dupla Wachowski, fez um baita sucesso. Tinha belos efeitos e imagens, mas também tinha excelentes diálogos e um enredo esperto. Sem eles o filme talvez não se tornasse o sucesso que foi. “O Destino de Júpiter”, outro filme da dupla, é cheio de imagens e efeitos lindos. E um roteiro vergonhoso com falas ridículas. Foi um fracasso galáctico. Acho que temos uma lição aí, não acha?

É fácil gastar milhões de dólares com imagens fantásticas de encher os olhos. Principalmente quando você não tem nada a dizer. Difícil mesmo é escrever um bom diálogo. As pessoas não querem apenas “boas imagens e sons”. O ser humano, desde sempre, quer “histórias”, “personagens”. Se não fosse assim, o livro já teria deixado de existir — por mais que anunciem, ele ainda está aí. Sim, Dennis, ainda tem gente que lê livros. Sem imagem alguma, só letrinhas. Olha o poder que as palavras têm. O diálogo é uma poderosíssima forma de construir histórias e personagens. Não é a única, mas nem de longe é a menos importante.

É preciso que diretores se voltem para o básico. Hollywood gasta os tubos com filmes repletos de efeitos audiovisuais para tentar conquistar as plateias. Deveriam gastar um pouco com esse ingrediente elementar: texto. E olha a vantagem: palavras são mais baratas de criar do que os efeitos da Industrial Light & Magic. Que são ótimos, diga-se. Mas não são suficientes para sustentar um filme sozinho.

E para quem não acredita no poder das palavras, uma dica: procure no Youtube por “Letters Live”. É um evento quem acontece no Reino Unido em que grandes atores fazem leitura de cartas e mensagens. Sim, você leu direito. E o troço enche teatros. Só palavras. Zero efeitos.

A propósito, Dennis, não me leve a mal, mas eu achei o seu “Duna” bem chatinho. Adoro o universo de “Duna” e você o representou visualmente de maneira genial. Mas com um roteiro arrastado e redundante. Se você prestasse mais atenção às palavras o filme seria perfeito. Vamos fazer esse esforço? E pare de arrotar frases arrogantes que não param em pé. Você não gosta de diálogos e palavras, mas nós gostamos. E somos nós que vamos ver filmes. Sem plateia não tem bilheteria. Pense nisso.