A fila anda

A fila anda

Entrei na fila e me desesperei, era enorme. Mas eu tinha que resolver uma questão que não conseguia fazer pela internet, então precisava encarar a fila. Assim que assumi o meu lugar no fim da fila, ela andou um pouco, mas o sujeito que estava na minha frente mexendo no seu celular não se mexeu.

— Meu amigo, a fila andou. — Eu o avisei.

— Eu vi. — O cara falou.

— E por que o senhor não andou?

— Pra quê?

— Ué, porque é assim que funciona. Quando a fila anda, a gente anda com ela.

— Eu não acho. Eu prefiro ficar parado e andar só quando valer a pena.

— E quando vai valer a pena?

— Quando tiver pelo menos uns 3 metros para andar.

— E se alguém aproveitar o espaço vazio e entrar na fila?

— Não vai acontecer, eu estou de olho.

A fila andou mais um pouco, mas o sujeito permaneceu parado.

— O senhor não vai andar mesmo?

— Ainda não.

— Não é assim que se comporta em filas, meu amigo…

— Onde é que isso está escrito?

— Em lugar nenhum, mas é senso comum que na fila a gente tem que andar, nem que seja um centímetro! É psicológico, entende?

— Psicológico?

— É… assim a gente tem a sensação de que está andando. Mesmo devagar, pelo menos está indo para a frente.

— Eu não tenho problemas psicológicos.

— Nem eu! Mas é que se a fila está parada, a gente acha que nunca vai ser atendido.

— Mas a fila não está parada!

— Ela está parada sim. A partir do senhor ela não anda.

— Mas quando eu andar, vou andar muito e a sensação vai ser boa.

— Mas agora a sensação é ruim.

— Ruim pro senhor, não para mim.

Vi que não adiantava argumentar e achei melhor mudar de fila. Fui para a fila ao lado que, por não ter ninguém emperrando, estava bem na frente. Foi de lá que eu vi o babaca ser atendido muito antes de mim.