Últimas semanas para assistir: filme inspirado em obra-prima da literatura alemã lida por mais de 15 milhões de pessoas Divulgação / Dreamworks

Últimas semanas para assistir: filme inspirado em obra-prima da literatura alemã lida por mais de 15 milhões de pessoas

Em “Perfume — A História de um Assassino”, Tom Tykwer realiza a proeza de criar um filme tão sinistro quanto absorvente, priorizando as imagens sobre o preciosismo do enredo original. O diretor revela cada mistério no tempo certo, mantendo a aura noir do romance de Patrick Süskind, publicado em 1985.

A trama, construída com algumas ideias anômalas do roteiro de Tykwer, escrito em colaboração com Andrew Burkin e Bernd Eichinger, modela o personagem doentio que conduz a história, fundamentado em perversões e um estranho dom. Na abertura, figurantes acorrentados oferecem uma visão da vida na França do século 18. “Perfume” mergulha de maneira perturbadora na Paris de 1738, destacando o caos generalizado na Europa da época.

O nascimento do quinto filho de uma peixeira, em meio à sujeira da capital francesa, apresenta elementos que compõem o perfil intricado do protagonista, Jean-Baptiste Grenouille. A escatologia é uma necessidade vital, assim como a jornada de Grenouille, uma criatura incomum para o bem e para o mal.

O destino de Jean-Baptiste parece ser evitar a sarjeta, e esse conceito orienta a atuação de Ben Whishaw nas duas horas seguintes. Whishaw revela parcimoniosamente a vilania de Grenouille, destacando a natureza diabólica do personagem. O protagonista sobrevive à negligência da mãe e vai parar no orfanato da madame Gaillard. Franck Lefeuvre interpreta passagens em que o protagonista surge quase inocente na pele de um garoto travesso.

A narrativa prossegue com a história de Grenouille, que, após sua passagem pela loja de Giuseppe Baldini, assume o centro do palco. Baldini, um mestre perfumista vivido por Dustin Hoffman, encontra-se em decadência, amargurado pela velhice e ressentido com a ascensão de um jovem confrade. Este confrade é responsável por uma fórmula chamada Amor e Psique, cujo segredo Baldini tenta desvendar a todo custo.

Hoffman, com sua habitual classe, entra e sai de cena após momentos memoráveis ao lado de Whishaw. Com a conclusão desse trecho de “Perfume – A História de um Assassino”, Tykwer recoloca Grenouille no centro da trama. O diretor conduz o filme com precisão, permitindo que o monstro se desenvolva e aprimore sua truculência até o epílogo, quando quase tudo retorna ao estado inicial, com um Jean-Baptiste angelical, semelhante ao lobo após a caçada.

A jornada de Grenouille, desde sua infância até a autodescoberta na loja de Baldini, é marcada por elementos grotescos e perversões. O filme destaca o caos na Paris do século 18, mergulhando nos detalhes perturbadores da vida na época. A escatologia torna-se uma necessidade vital para Grenouille, uma criatura singular que escapa por pouco da sarjeta e encontra seu destino no orfanato.

A atuação de Ben Whishaw revela gradativamente a vilania de Grenouille, enquanto Franck Lefeuvre interpreta o protagonista em sua fase mais inocente, antes de se transformar no personagem doentio que conduz a trama. A edição de Alexander Berner contribui para a coesão da narrativa, destacando o contraste entre a infância e a fase adulta de Grenouille.

Ao revelar cada mistério a seu tempo, Tykwer preserva a aura noir do romance original, publicado por Patrick Süskind. O diretor equilibra as imagens sinistras com a absorvente trama, desviando do preciosismo do enredo original. “Perfume – A História de um Assassino”, na Netflix, é, assim, um mergulho nas profundezas da psique humana, conduzido com maestria por Tykwer e interpretado de forma magistral por Whishaw, Hoffman e Lefeuvre. O filme proporciona uma experiência cinematográfica única, deixando no ar a fragrância de mistério, beleza e eternidade.


Filme: Perfume — A História de um Assassino
Direção: Tom Tykwer
Ano: 2006
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 8/10