Os Estados Unidos se gabam de ser a “terra da liberdade”, mas será mesmo? Democracia, presunção de inocência, liberdade individual. Tudo isso que é carro-chefe da política norte-americana parece não ser tão verdade assim quando assistimos filmes como “O Mauritano”, drama inspirado no livro de memórias de Mohamedou Ould Slahi, “Diários de Guantánamo”, que virou best seller. Na publicação, ele narra sua prisão e os 14 anos que passou detido na Baía de Guantánamo, sendo submetido a infindáveis torturas físicas e psicológicas, sem, ao fim de todo esse tempo, ser condenado a nenhum crime por falta de provas.
A história começa em novembro de 2001, pouco depois dos ataques de 11 de setembro. Após ser preso e interrogado por oficiais do FBI, a CIA o transportou para uma prisão na Jordânia, onde foi torturado cruelmente. Slahi se tornou suspeito por causa de algumas conexões indiretas com Osama Bin Laden. O governo americano acreditava que ele tinha envolvimento com o grupo terrorista Al Qaeda e com os ataques. Em 2000, antes mesmo dos ataques, ele já havia sido monitorado pela inteligência por considerá-lo suspeito. Submetido a humilhações, espancamentos, privação e sono, barulhos extremos e outros tipos de condições desumanas, ele foi vendado e levado em um navio para uma suposta execução. Depois de a execução não ocorrer de fato, ele foi levado de volta para a Mauritânia e, em seguida, foi preso em Guantánamo por 14 anos.
No filme, o ator Tahar Rahim é quem interpreta Slahi. Jodie Foster é Nancy Hollander, uma advogada de defesa que pega o caso de Slahi para defendê-lo, com ajuda da advogada associada Teri Duncan (Shailene Woodley), e consegue juntar provas de vários absurdos cometidos contra Slahi pelo governo americano. Stuart Couch (Benedict Cumberbatch) é um promotor da corte militar que está a serviço do governo americano, mas mesmo ele se depara com as atrocidades jogadas por debaixo do tapete pelas autoridades norte-americanas em nome da indignação pelos ataques.
Adaptado pelos roteiristas MB Traven, Rory Haines e Sohrab Noshirvani, a fotografia de Alwin H. Küchler se aproveita de proporções apertadas para dar a sensação de claustrofobia. O diretor Kevin Macdonald também utiliza muita tensão e suspense para provocar angústia e apreensão nos espectadores. As emoções são ainda mais fortalecidas pelas atuações brilhantes de Tahar Rahim, Jodie Foster, Benedict Cumberbatch e Shailene Woodley. O filme foi indicado em 5 categorias do Bafta em 2021.
As cenas fortes e explícitas de tortura, embora consideradas brandas pelo próprio Slahi, em comparação com o sofrimento no qual foi submetido na vida real, são bastante chocantes e revoltantes. Vale ressaltar que a prisão de Slahi ocorreu durante os governos dos presidentes George W. Bush e Barack Obama, ambos cientes das condições nas quais ele estava submetido e que o negaram sua liberdade. Um filme pesado e necessário, “O Mauritano”, no Prime Video, mostra o pior lado da América.
Filme: O Mauritano
Direção: Kevin Macdonald
Ano: 2020
Gênero: Drama/Biografia/Crime
Nota: 9/10