Li “Os Melhores Contos de Fadas Asiáticos” e mergulhei numa tradição duplamente fantástica. Primeiro, por conta do estilo literário mágico, associado a eventos e ações de suas personagens que se distanciam da realidade. Segundo, por se tratar de algo realmente agradável, ou seja, fantástico no sentido mais lúdico e essencial da palavra.
O livro é um primor de organização e cuidado, feito com todos os elementos gráficos necessários para cativar o leitor, ilustrar a história e fazer caber o imaginário nas indagações sobre como são as coisas incríveis que jamais poderemos ver com nossos próprios olhos. Como dragões, fantasmas, gigantes, deuses, raposas de nove caudas e outros seres pré-borgianos inimagináveis.
A coleção de contos, incríveis narrativas do Japão, China, Mongólia e Coréia, curtos e inocentes, em sua maioria, tratam de uma tradição moral, onde a honra é a regra, o heroísmo, o costume e o amor, a redenção. Uma cultura baseada em motivos e inspirações, para a vida, que não são mais praticados, o que em geral é, obviamente, uma virtude, mas servem como um documento paralelo para o entendimento de comportamentos tradicionais explorados com o exagero literário de seus autores originais. Histórias que, passadas pela tradição verbal, atingiram eruditos, nem sempre orientais, que condensaram seu sentido de forma escrita e as repassaram fielmente.
A mulher recebe especial atenção nos contos. Sempre dotadas de características super-humanas, especialmente na estrutura corpórea e na beleza física, suas ações e personalidades são antropomorfizadas e, não incomum, agregadas às propriedades de minerais preciosos, como o ouro e o diamante.
Em “Tamamo, a Donzela Raposa”, de Grace James, temos a definição da dama: “Chamavam-na de perfeição extraordinária, ouro puro e joia impecável.” Uma faceta das histórias está na necessidade, sempre presente, para os autores da época, de que a realização da mulher depende do casamento. Assim, os contos buscam, nas histórias sobre as jovens, concretizar seu arco dramático e romântico no encontro de um salvador encantado, um homem dotado de beleza extraordinária e bravura única. Pode-se evidenciar isso no conto “A Ponte de Pássaros Celestial”, de William Elliot Griffis, que fala sobre os desejos da princesa, personagem da história: “Sua maior ambição era fazer da vida dele (o marido) uma alegria constante”.
Temas como o altruísmo, a dor e a redenção são explorados à exaustão. Há uma belíssima passagem em “Como os Deuses-Serpente Foram Apaziguados”, de Rachel Harriette Busk. Um eremita adota dois irmãos e cuida deles como um pai. Os irmãos são procurados e devem ser mortos por serem uma ameaça. Ao ver o pai sendo maltratado um dos irmãos se sacrifica. Mas o eremita estava disposto a morrer pelos filhos adotivos.
O livro está carregado de metáforas moralistas para vida e explicações absurdamente belas e simples para a morte, como uma tentativa maravilhosa de superar a dor da perda e a fragilidade da existência. “Os Melhores Contos de Fadas Asiáticos” é um trabalho muito bem-feito de resgate de textos literários do oriente e com isso um estudo de tradição e cultura.
Livro: Os Melhores Contos de Fadas Asiáticos — Japão, China, Mongólia e outros países
Autor: Organização de Marina Ávila
Tradução: Vários
Páginas: 464 páginas
Editora: Wish
Nota: 9,5/10