A interação mais evidente entre música e artes visuais frequentemente se manifesta nas capas de discos. Isso pode ocorrer tanto pela influência estética — como nas capas criadas pelo designer gráfico Storm Thorgerson, inspiradas nas obras surrealistas de René Magritte — quanto pela reprodução direta de uma obra de arte, exemplificado pela capa do álbum “Viva la Vida” do Coldplay, que apresenta a pintura “A Liberdade Guiando o Povo” de Eugène Delacroix.
Mas e quando um estilo artístico específico influencia não apenas a identidade visual, mas também a essência musical de um artista?
Um exemplo emblemático no universo da música pop é a banda americana White Stripes, ativa de 1997 a 2011, e sua conexão estilística com o movimento “De Stijl”, ou Neoplasticismo, uma vanguarda artística do início do século 20 originada nos Países Baixos em 1917.
“De Stijl”, que significa “O Estilo”, agrupou pintores, arquitetos e poetas, sendo Piet Mondrian, o pintor holandês, sua figura mais notória. O Neoplasticismo coexistiu com outras vanguardas como o Futurismo, Suprematismo, Construtivismo e Dadaísmo, todas elas influenciadas, em maior ou menor grau, pelo Cubismo.
Esse movimento defendia uma expressão artística simplificada e abstrata, visando um purismo essencial. Baseava-se em formas geométricas e cores primárias — azul, vermelho e amarelo, além do branco e preto. Essa simplicidade também se refletia na arquitetura e no design de móveis.
Interessantemente, havia um aspecto filosófico na abordagem neoplasticista, pois Piet Mondrian, antes de formar o grupo, se envolveu profundamente com a teosofia, promovida pela escritora russa Helena Blavatsky. Assim como a teosofia buscava conciliar ciência e espiritualidade, Mondrian aspirava alcançar uma harmonia similar através de sua arte.
Oitenta anos após a formação de “De Stijl”, Jack e Meg White fundaram o duo White Stripes. Jack era um admirador do movimento encabeçado por Mondrian, especialmente das obras do arquiteto e designer de móveis Gerrit Rietveld.
A influência do Neoplasticismo na obra dos White Stripes é perceptível sob várias perspectivas. Visualmente, a banda adotou um esquema de três cores: vermelho, branco e preto, presente nas capas dos discos, nos trajes e na decoração dos palcos. Musicalmente, optaram pela simplicidade nas composições e arranjos, apoiando-se na essência do blues e do folk para criar rock direto e enérgico.
Tamanha era a afinidade dos White Stripes pelo Neoplasticismo que seu segundo álbum foi intitulado “De Stijl”. Lançado em 2000, o álbum apresenta na capa o duo ao lado de formas geométricas vermelhas, brancas e pretas, remetendo ao estilo neoplasticista. Esse trabalho foi dedicado ao músico de blues Blind Willie McTell e ao arquiteto Gerrit Rietveld.
A estética simplificada dos White Stripes também se manifestava na recorrência do número três: três cores, três instrumentos musicais (guitarra, bateria e voz) e os três acordes fundamentais do rock e do blues. A gravadora de Jack White é denominada Third Man Records, e ele, nascido John Anthony Gillis, adotou o nome artístico Jack White III.
Embora os White Stripes tenham se desfeito, com Meg White afastando-se da música e Jack White embarcando em diversos projetos solo, a influência visual do “De Stijl” permanece, agora com Jack adotando uma paleta de azul, branco e preto. O legado de “De Stijl” continua a inspirar e a moldar sua trajetória artística.