“O Homem que Vendeu sua Pele” está no Prime Video e é uma obra-prima do cinema tunisiano, lançado em 2020 e indicado ao Oscar na categoria de melhor filme internacional. Kaouther Ben Hania tem algumas produções bem-avaliadas pela crítica, mas confesso que seu nome é novo para mim. Além deste, ainda não vi nenhum trabalho anterior ou posterior dela, apesar da cineasta ser uma das indicadas ao Oscar de melhor documentário em 2024 por “As 4 Filhas de Olfa” e ter concorrido em Cannes com “A Bela e os Cães”.
Em “O Homem que Vendeu Sua Pele” acompanhamos um refugiado sírio, chamado Sam (Yahya Mahayni), que foge de seu país, onde estava preso, e consegue ir para o Líbano, onde conhece um artista belga, chamado Jeffrey (Koen De Bouw). No Líbano, Sam passa muitas dificuldades, não tem o que comer e, além de tudo, ele sonha em ir para a Bélgica reencontrar Abeer (Dea Liane), o grande amor de sua vida e que está prometida para outro homem.
Então, o Jeffrey faz uma proposta para Sam. Ele deseja comprar o direito de realizar uma arte, uma tatuagem nas costas dele e transformá-lo em obra de arte viva. Acordo feito e Jeffrey tatua na pele de Sam o visto Schengen. O documento real é obrigatório em 26 países, sendo 22 deles da União Europeia e os outros da EFTA (a Associação Europeia de Livre Comercio). Então, para acessar esses países, apenas com esse visto.
E é óbvio que Kaouther Ben Hania, a diretora, quer nos provocar algo. Ela quer que este filme represente uma mensagem que se torna clara ao longo da história. A primeira delas, é a forma como Sam é tratado. Embora ele seja a arte viva em uma exposição, o protagonista sofre inúmeros episódios de preconceito, assédio moral, desvalorização do ser humano e de sua condição de humanidade, seus sentimentos, suas emoções, suas dores.
Ele vive como um escravo, sem direito de se mexer, interagir, conversar. Eles tentam objetificar seu corpo e esvaziar do humano que habita ali dentro. E, óbvio, tudo por conta do visto Schengen, que dá a ele o acesso à Europa e a uma suposta vida melhor. E aí o filme questiona o sentido, o significado da liberdade. Sam deixa seu país, que vive em guerra. Lá ele se sentia preso e, para buscar a liberdade, sai, mas encontra um outro tipo de privação de sua liberdade.
O romance dele com Abeer é um pano de fundo, a questão realmente retratada é a desvalorização do ser humano e do capitalismo como um sistema que é extremamente perverso com quem é mais vulnerável. Aliás, quanto mais pobre, mais miserável e mais marginalizado, mais cruel o sistema é com ele.
“O Homem que Vendeu Sua Pele” é o primeiro filme da Tunísia a concorrer ao Oscar. É uma produção diferente, que fala de arte e acaba misturando elementos que fazem as cenas parecerem composições artísticas. Inclusive faz uma crítica a esse universo dos artistas, de futilidade, elitismo, falta de empatia.
Filme: O Homem que Vendeu sua Pele
Direção: Kaouther Ben Hania
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 10