As reviravoltas da vida muitas vezes nos pegam desprevenidos, impondo desafios aos quais devemos reagir com prontidão. Mudanças que acreditávamos cruciais para nossa felicidade podem revelar-se menos eficazes do que esperávamos. Quando percebemos que transformações verdadeiramente salvíficas exigem um preço mais alto, o desespero pode surgir. A protagonista de “Amor a Três” está em uma encruzilhada, onde precisa tomar uma decisão antes de iniciar sua jornada. Após o término de um relacionamento significativo e a renúncia a um emprego, Daphne se vê em uma situação de tudo ou nada, se entregando em relações com dois amigos distintos e ajustando-se à vida na edícula da irmã.
O diretor e roteirista Drake Doremus, habilmente, desvela as várias camadas de Daphne, enquanto Shailene Woodley a retrata sob perspectivas únicas. Daphne, agora morando temporariamente na casa da irmã, busca alternativas, incluindo dar aulas de artes plásticas para ganhar dinheiro. A narrativa se desenrola como um conto moderno e, eventualmente, Daphne se encontra conectada a dois príncipes desencantados, Frank e Jack. Apesar de um envolvimento mais profundo com Jack, é a relação física com Frank que fornece a Daphne o sustento necessário para progredir.
No terceiro ato, os encontros entre Daphne, Frank e Jack, em locais como uma biblioteca pública, um café e um bosque mal iluminado ao entardecer, apresentam reviravoltas significativas, exploradas de forma magistral pelos atores. Contudo, o destaque é o belo monólogo de Woodley, onde ela discorre sobre portas, chaves, derrota, vitória e, acima de tudo, amadurecimento. Daphne, ao final, não necessita de ninguém além de aceitar essa verdade.
No desenlace, Daphne, agora enriquecida por seus encontros e desencontros, desfruta de um monólogo introspectivo e belo. O entendimento gradual de que ela não precisa depender de outra pessoa para sua felicidade é o cerne de sua jornada de autodescoberta. Woodley, com sua atuação envolvente, capta a complexidade e a evolução dessa personagem singular.
O filme, embora guiado pela trama amorosa de Daphne, cede espaço aos dois homens que influenciam sua vida. Jack, interpretado por Jamie Dornan, emerge como uma figura intelectual, contrastando fortemente com a imagem do Casanova encarnado por Sebastian Stan no papel de Frank. A dicotomia entre esses personagens adiciona nuances à narrativa, explorando diferentes facetas dos relacionamentos e suas complexidades.
Os encontros em locais simbólicos, como bibliotecas e bosques ao anoitecer, conferem uma textura única à história. Cada cena é habilmente trabalhada pelos atores, proporcionando reviravoltas que desafiam as expectativas do público. No entanto, é o monólogo reflexivo de Daphne que se destaca, revelando uma profundidade emocional e uma sabedoria que permeiam sua jornada de autodeterminação.
Em última análise, “Amor a Três”, que está na Netflix, não é apenas um filme sobre relacionamentos e escolhas amorosas; é uma exploração tocante da jornada interior de uma mulher em busca de independência e autoaceitação. A direção sensível de Drake Doremus e a performance cativante de Shailene Woodley convergem para criar uma narrativa rica e envolvente, repleta de nuances e reflexões sobre a complexidade do amor-próprio e das relações interpessoais.
Filme: Amor a Três
Direção: Drake Doremus
Ano: 2019
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10