“Pobres Criaturas” é o mais recente longa-metragem de Yorgos Lanthimos, um diretor conhecido por produzir filmes fora do comum, com temáticas peculiares, atuações cativantes e um estilo visual distinto. Recebendo indicações para 11 prêmios, incluindo melhor atuação por Emma Stone e melhor direção por Lanthimos, o filme destaca-se como um dos melhores da temporada do Oscar.
A história começa ao nos apresentar Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher criada a partir de um experimento do cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe). Após encontrar a jovem à deriva no mar, logo após tentar suicídio, o cientista opta por revivê-la de maneira inesperada.
Apesar de falecida, a mulher ainda mantinha um resquício de eletricidade em seu corpo, que não havia esfriado completamente. Se aproveitando dessa condição, e percebendo que a moça estava grávida, Godwin Baxter decide extrair o cérebro do bebê de seu ventre e implantá-lo em Bella.
Essa premissa inusitada serve como ponto de partida para uma narrativa criativa e inovadora que acompanha o desenvolvimento de Bella. Inicialmente, a personagem é apenas uma criança em corpo de mulher. Tudo é novo para ela: as palavras, os objetos, os alimentos, e suas ações são permeadas de inocência e curiosidade.
Com o tempo, Max McCandles (Ramy Youssef), um jovem estudante de medicina da turma de Godwin Baxter, passa a morar com a família Baxter, convidado pelo cientista para participar de seu novo projeto. Gradualmente, Max se apaixona por Bella e a pede em casamento.
Bella aceita, mas antes decide aventurar-se com Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado recém-chegado que se sente imediatamente atraído por ela. Ele a leva para Lisboa, Portugal, e outros países.
Lanthimos habilmente retrata o amadurecimento e as descobertas de Bella sobre o mundo. O processo de aprendizado da linguagem, das maneiras, das ações humanas básicas e até da própria consciência corporal, que normalmente levaria anos, ocorre de maneira acelerada para Bella.
As questões, aparentemente óbvias, que Bella levanta, provocam uma transformação de perspectiva. O que é considerado absurdo ou audacioso pela sociedade é visto como filosófico e brilhante quando questionado por Bella, tornando o que é rotineiro e evidente para outros, surpreendente e estimulante para ela.
Ao explorar o mundo fora de casa, Bella se encanta profundamente pelos prazeres da vida, experimentando primeiro o prazer físico e sexual, depois o prazer gustativo dos alimentos, e, finalmente, os prazeres emocionais e poéticos da arte, música e literatura.
A evolução de Bella serve como pano de fundo para a temática central do filme: a sexualidade. A obra, gradualmente, revela-se uma sátira sobre o despertar da sexualidade feminina e a visão imoral e profana que a sociedade tem do desejo sexual feminino.
Desde cedo, Bella mostra interesse e curiosidade pelo próprio corpo. No entanto, sempre que aborda seu prazer ou tem dúvidas sobre seu corpo e relações íntimas, é reprimida e censurada, com a justificativa de que tais assuntos são inadequados aos costumes da época e ao comportamento esperado de uma moça.
A história desafia estigmas e valores estabelecidos, levando o espectador a revisitar e ver com novos olhos, transformando gradualmente a trajetória de Bella em uma história familiar: a de uma mulher vista como aberração simplesmente por buscar sua própria felicidade e liberdade em um sistema conservador.
A narrativa destaca as situações difíceis e desconfortáveis que Bella enfrenta, incluindo miséria, relacionamentos abusivos e crueldades do mundo, amadurecendo sua visão ingênua e infantil para uma perspectiva mais realista e filosófica.
Quando Bella e Duncan se encontram sem recursos em Paris, ela opta pela prostituição como meio de subsistência. Sem intenção de continuar o relacionamento com Duncan, ela permanece no bordel, onde descobre sua independência sexual e o feminismo.
Por fim, a obra de Lanthimos reflete sobre o amadurecimento e os desafios enfrentados pelas mulheres ao longo da vida, personificados por Bella, que se esforça para adaptar-se a um mundo preconceituoso, buscando transformá-lo em um lugar melhor.
“Pobres Criaturas” é uma obra fundamental, rica em críticas sociais e filosóficas, com performances impressionantes. O filme, que está nos cinemas, apresenta uma estética única, com fotografia vibrante e trilha sonora marcante, conferindo um estilo surrealista a um filme contemporâneo, tornando-se essencial para apreciadores de arte, filosofia e sociologia.
Filme: Pobres Criaturas
Direção: Yorgos Lanthimos
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Ficção Científica
Nota: 10