Ontem, eu assisti ao filme “Meu Nome É Gal” e me emocionei em alguns momentos, não porque o filme seja uma obra-prima — o que ele não é —, mas por ter me trazido lembranças de uma época em que eu, ainda criança, ficava impressionado com a forma como a música brasileira daquele tempo — o filme é ambientado entre 1966 e 1971 — tocava profundamente as pessoas, incluindo a minha família.
Nós acompanhávamos as edições dos festivais de música brasileira pela televisão; minha mãe e meu irmão mais velho eram os mais empolgados com as apresentações das estrelas de primeira grandeza da nossa música naqueles saudosos festivais.
“Meu Nome É Gal” é limitado e tem muitas falhas, mas funciona como um documento de resgate de uma época excepcional na cultura nacional, representada pela figura imensa que é Gal Costa. O filme, ainda que em menor intensidade, traz a contraparte tenebrosa de uma cultura efervescente: a repressão política da ditadura militar. Ele mostra também, de maneira sutil, através das atitudes de Gal, as ações de um governo ilegítimo que tratava os grandes artistas da época como inimigos.
O grande destaque do filme é a atuação de Sophie Charlotte, que consegue, em meio a algumas atuações irregulares ou caricatas de outros atores, transmitir o magnetismo e o carisma de Gal Costa. O ator Luis Lobianco, que interpreta o empresário Guilherme Araújo, também se destaca e é responsável por pequenos e hilários momentos.
Assim, nesta época de monocultura agro-midiática de soja para exportação e de música sertaneja, dita ‘universitária’, que visa entorpecer as almas descuidadas, o filme torna-se necessário para as novas gerações. Elas precisam saber que, em tempos passados, a música de qualidade, hoje escondida, era divulgada e fazia sucesso.
O filme é essencial também para uma grande parcela da população brasileira que, infelizmente avessa às lições da História, parece desejar a repetição de uma página infeliz de autoritarismo e perseguição.