O gênero terror abre portas para uma reflexão profunda sobre a vida, os costumes e a rejeição destes. Este estilo cinematográfico frequentemente explora o desconhecido e o sobrenatural, aspectos incontroláveis e intimamente ligados à natureza humana, muitas vezes revelando seu lado mais sombrio e perturbador. Neste contexto, o cineasta Paco Plaza se destaca, especialmente com a prequela de “Verónica” (2017), intitulada “Irmã Morte”. Este filme se aprofunda em clichês típicos do gênero, mas os subverte, mantendo-se fiel a uma mensagem subjacente complexa.
“Irmã Morte” é uma narrativa que explora temas densos como fé, vocação religiosa e tentações carnais, tratados com a seriedade que merecem. Plaza se posiciona como um observador, desvendando o caos sem tomar partido. O filme começa com imagens antigas em 8mm de uma garota que parece ser tocada pela graça divina. Escrito por Plaza e Jorge Guerricaechevarría, o roteiro nos leva de volta aos anos 1930, inserindo um contexto histórico real na ficção.
A trama gira em torno de Narcisa, uma jovem camponesa que, após supostamente presenciar uma aparição mariana, torna-se um ícone religioso, semelhante aos videntes de Fátima. Anos depois, encontramos Narcisa em um convento transformado em escola para meninas após a Guerra Civil Espanhola. Ali, ela vive entre o afeto da madre superiora e a desconfiança de outra freira, enquanto luta com suas próprias incertezas.
Aria Bedmar, interpretando Narcisa, retrata com maestria a complexidade da personagem, que oscila entre ser uma figura de esperança para as noviças e uma jovem com suas próprias vulnerabilidades e crises de identidade.
O clímax do filme revela que as supostas mensagens divinas que Narcisa transmite são, na verdade, algo muito mais sinistro. Plaza, reutilizando elementos de “Verónica”, destaca-se ao representar esta tensão entre a fé e o sobrenatural, criando um filme que é tão provocativo quanto assustador.
Filme: Irmã Morte
Direção: Paco Plaza
Ano: 2023
Gêneros: Terror/Mistério
Nota: 9/10