Um dos melhores filmes de Daniel Craig e que o fez ser contratado como “James Bond” está na Netflix Divulgação / Sony Pictures Classic

Um dos melhores filmes de Daniel Craig e que o fez ser contratado como “James Bond” está na Netflix

Na sombria paisagem do crime, possuir uma dose elevada de coragem é essencial, muito além do que se exige em atividades regulamentadas por leis e estatutos. Se destacar neste meio é um tanto desafiador  e garantir a sobrevivência, tanto metafórica quanto literalmente, é reservado apenas àqueles cujo sangue flui com a ferocidade de predadores.

Contrariando previsões e convenções estabelecidas, um traficante astuto, paciente e com aspirações modestas escala uma montanha de riscos titânicos, contorna adversários reais e imaginários, alcançando o topo (ou o que ele escolhe como tal) com uma relativa integridade. Ele espera poder desfrutar da merecida aposentadoria, até que, como um ultimato inevitável, recebe uma missão capaz de desfazer o meticuloso planejamento de toda uma vida.

Matthew Vaughn constrói os conflitos que esse membro comum do submundo enfrenta enquanto busca se libertar do ciclo criminoso e de suas armadilhas, espreitando em cada curva, avançando por um caminho que pode representar uma reviravolta oposta ao que conhecia ou simplesmente uma variação do que se tornou. “Nem Tudo é o que Parece” (2004) depende significativamente da interpretação de Daniel Craig para atingir o nível desejado de tensão, e nesse aspecto, o filme realiza um trabalho notável.

O personagem de Craig não recebe um nome específico nos créditos finais, sendo simplesmente representado por XXXX. Isso pode sugerir que ele conseguiu navegar pelos perigos e desafios do crime organizado de Londres com uma certa elegância. Nesse cenário, os criminosos vestem ternos impecáveis, mesmo os menos destacados na hierarquia do tráfico. O protagonista, interpretado por Daniel Craig, um dos galãs de ascensão mais rápida na história da indústria cinematográfica antes de sua icônica atuação como James Bond, não foge a essa norma.

Craig oferece uma breve prévia de sua futura interpretação como o famoso espião internacional, James Bond, nos filmes da franquia “007” (2006-2021). No papel de XXXX, o narrador da história, fica implícito no roteiro de J.J. Connolly, uma extensão do romance policial “Layer Cake” (2000), que sua incursão no submundo do crime não ocorreu sem resistência. Foi uma última tentativa de conquistar alguma independência, e sua saída desse mundo é uma decisão estritamente pessoal. Connolly destaca que a visão romântica do estilo de vida de uma quadrilha se encaixa bem em histórias de James Bond, mas não se aplica a um indivíduo como XXXX.

A trama se desenrola quando Jimmy Price, chefiado por Kenneth Cranham, encarrega XXXX de resgatar a filha do poderoso chefão Eddie Temple, interpretado por Michael Gambon. Vaughn habilmente insere duas subtramas que podem comprometer o ritmo do filme, mas se revelam recursos valiosos para o desfecho. Uma dessas ramificações envolve o ecstasy, uma das operações mais lucrativas da gangue de Temple e, por coincidência, também uma das mais arriscadas.

Duke, interpretado por Jamie Forman, um dos associados de Jimmy, rouba um milhão de libras em pílulas de ecstasy da máfia sérvia, desencadeando uma situação caótica que só XXXX, com sua habilidade diplomática, pode remediar. Apesar de sua eficiência profissional, ele se vê apaixonado, possivelmente pela primeira vez, desviando sua atenção para Tammy, interpretada por Sienna Miller, o elemento romântico-sexual essencial nesse gênero de narrativa.

Vaughn explora com eficácia a narrativa do homem perdido que vislumbra a redenção por meio do amor, mas é sabotado pelo destino, como sugere a última cena, um ponto crucial na história. Nesse universo, uma vez inserido no crime, é difícil escapar, revelando a mensagem subjacente de “Nem Tudo é o que Parece”.


Filme: Nem Tudo é o que Parece
Direção: Matthew Vaughn
Ano: 2004
Gêneros: Policial/Drama/Ação
Nota: 9/10