Aclamado pela crítica, filme bobinho e adorável é uma das surpresas mais agradáveis na Netflix Divulgação / Emperor Film and Entertainment

Aclamado pela crítica, filme bobinho e adorável é uma das surpresas mais agradáveis na Netflix

A culinária é um patrimônio intangível e que diz muito sobre a história e a cultura de um povo. A culinária asiática é tão emblemática e tradicional que cada país desse riquíssimo continente tem pratos bastante específicos, mas com algumas características compartilhadas, como peixes e frutos do mar como principais fontes de proteína. Ambientado em Hong Kong, “Arrasando na Cozinha” gira em torno da culinária tradicional e da quebra de paradigmas e reúne dois proeminentes chefs de restaurantes. Gao (Nicholas Tse) é um jovem cantonês, abandonado pelo pai na infância e deixado sob os cuidados do cozinheiro de uma tradicional e respeitada, porém pequena, cozinha de Hong Kong. Até que um restaurante sofisticado abre na vizinhança e ameaça roubar sua clientela.

O chef desse restaurante refinado e com uma estética minimalista e completamente sem personalidade é Paul (Jung Yong-hwa), formado em cozinha francesa e com estrela Michelin. O primeiro encontro entre eles é no mercado aberto, onde ambos procuram por um peixe robusto para construir seus pratos. Eles duelam brevemente em discursos imagéticos de como seriam suas receitas. Os efeitos visuais modernos, recheados de time-lapse, câmera lenta, lentes macro e uma altíssima resolução, que dão destaque para detalhes do tempero, ponto dos ingredientes e temperatura, é realmente hipnotizante e o ponto alto do filme. O vendedor acaba por biblicamente dividir o peixe no meio entre os dois cozinheiros, como o rei Salomão ameaçou repartir a criança das duas mães que a reivindicavam. Mas, diferentemente da Bíblia, ambos vão embora cada um com suas metades.

Depois, eles se reencontram quando Gao decide ir até o novo restaurante comprovar a qualidade do trabalho de Paul. Ele é servido com uma salada mágica, que cresce diretamente de um vaso de plantas. O truque o faz perder a paciência e invadir a cozinha para confrontar seu oponente. Ele não foi até lá para ver truques, mas para experimentar um prato preparado por um verdadeiro chef. Então, Gao cozinha um filé com cebola aparentemente simples, mas com um visual divino. Paul responde com um bife dourado no maçarico e com uma apresentação igualmente elegante. As filmagens valorizam cada detalhe dos pratos e enchem nossa boca de saliva.

A disputa sobre qual deles é mais talentoso acaba em um reality show, chamado “God of Cookery”, onde o vencedor deverá confrontar ninguém menos que Gao Feng (Anthony Chau-Sang Wong), o pai de Gao, que se tornou um chef mundialmente famoso, embora ainda distante do filho. Conforme a história se desdobra, descobrimos que Paul não é o vilão deste filme, mas que, na realidade, ele se torna um adversário respeitoso e um colega compreensivo.

As atuações seguem o modus operandi tradicional do cinema asiático, um pouco exagerado e caricato. O áudio do filme não é dos melhores. A voz de Paul é dublada e é bastante perceptível. No entanto, há um bom desenvolvimento do protagonista e a história foge do óbvio e nos apresenta novas perspectivas sobre a rivalidade. Esteticamente, “Arrasando na Cozinha” é divino.


Filme: Arrasando na Cozinha
Direção: Wai-Man Yip
Ano: 2017
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.