Você ainda não viu, mas deveria: filme sobre autoconhecimento, erros, solidão e a busca pela felicidade, está na Netflix Bartosz Mrozowski / Netflix

Você ainda não viu, mas deveria: filme sobre autoconhecimento, erros, solidão e a busca pela felicidade, está na Netflix

A trama do cinema, frequentemente, se debruça sobre as falhas humanas, tecendo histórias onde o arrependimento e a redenção se enfrentam. No mais recente trabalho de Michał Gazda, “Amor Esquecido”, somos transportados para o íntimo de Rafał Wilczur, um distinto cirurgião que revisita os desvios do seu caminho, que o distanciaram de um passado ilustre. Esta produção se desdobra como um estudo de personagem, onde Wilczur, vivido por Leszek Lichota, caminha pela penumbra dos seus dias, entre a esperança de redenção e o espectro dos erros que ainda o assombram.

O filme se ergue sobre a fundação de seu antecessor, “The Quack”, dirigido por Jerzy Hoffman em 1982, mas Gazda traz uma visão moderna e complexa para a história, criando um protagonista que, mesmo desfigurado pelo tempo e circunstâncias, mantém um vestígio de nobreza. A narrativa polonesa tradicionalmente entrelaça o destino e a fortuna, e Gazda não foge dessa tradição, mas a reinterpreta para uma audiência contemporânea, desentrelaçando as idiossincrasias do coração humano.

Os escritores Marcin Baczyński e Mariusz Kuczewski orquestram um enredo que se estende por uma jornada de duas horas e vinte minutos, onde as desventuras de Wilczur servem de fio condutor para uma tapeçaria mais ampla de vidas interconectadas. A cada virada, Lichota, como Wilczur, oferece uma atuação que é um complexo quebra-cabeça de emoções, mantendo o espectador em constante questionamento sobre o que direciona os rumos de um homem — será o acaso, a escolha, ou uma combinação de ambos?

A produção também presta homenagem ao legado do cinema noir polonês, reconhecendo as contribuições de Michał Waszyński com “Professor Wilczur”, um filme que destilou a tensão e a melancolia de uma era à beira de um conflito mundial. Ainda assim, Gazda não se limita a replicar; ele reimagina e reconstrói.

A performance de Maria Kowalska como Maria Jolanta é uma revelação, uma luz que ilumina e transforma o caminho de Wilczur. Sua presença traz uma reviravolta na trama que desafia expectativas, dando nova vida ao enredo e aprofundando a busca do protagonista por significado e propósito após uma vida de tribulações.

“Amor Esquecido” tece uma história que questiona e contempla a natureza da humanidade, a busca por milagres em um mundo cético e cínico, e se um homem pode realmente mudar sua essência. Enquanto a obra de Gazda pode não alcançar o status icônico de seu predecessor, exibido anualmente na televisão polonesa, ele oferece um retrato introspectivo de um homem à margem, uma narrativa que reverbera com os ecos de uma alma em busca de salvação.


Filme: Amor Esquecido
Direção: Michał Gazda
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 9/10