Montevidéu, de Enrique Vila-Matas

Montevidéu, de Enrique Vila-Matas

Primeiro livro (1º) lido em 2024: “Montevidéu”, último livro do espanhol Enrique Vila-Matas. Em poucas palavras: “Daria qualquer coisa para um dia caminhar por alguma rua de alguma cidade do mundo e encontrar alguém que venha ao meu encontro para me dizer que entender o que escrevo lhe está custando mais a cada dia. Seria genial ouvir isso, porque me permitiria ser Valéry por alguns segundos na vida e responder à reclamação com as mesmas palavras que ele disse ao seu amigo, o abade e crítico literário Bremond, quando este o repreendeu por tal motivo. Valéry olhou o clérigo de cima a baixo e lhe disse que precisava compreender que ele não se levantava a vida toda entre quatro e cinco da manhã para escrever trivialidades”.

Montevidéu
Montevidéu, de Enrique Vila-Matas (Companhia das Letras, 240 páginas)

“Montevidéu” desafia as convenções narrativas, apresentando-se como um anti-romance, um tratado de teoria literária que navega e dissolve fronteiras entre gêneros literários. A trama centraliza-se em um escritor em crise criativa, que viaja para Montevidéu sob o pretexto de participar de um congresso. Contudo, seu verdadeiro objetivo é visitar um quarto de hotel na Ciudad Vieja, imortalizado em um conto de Julio Cortázar e supostamente conectado a outro mundo. Nesse contexto, Vila-Matas concebe uma obra repleta de profundidade e inquietação, salpicada por momentos de alívio cômico e enriquecida com referências literárias — uma marca registrada do autor espanhol — incluindo acenos aos brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector.

Além de explorar a obsessão do autor por Cortázar, o livro traça um panorama da história literária mundial, com especial ênfase no Uruguai. Este pequeno país do hemisfério sul teve um papel crucial, especialmente na renovação da língua espanhola, graças a figuras como Julio Herrera y Reissig e Idea Vilariño, bem como sua “confraria de lunáticos”. “Montevidéu” não é uma leitura fácil ou acessível a todos, mas sua maestria é inquestionável. Enrique Vila-Matas solidifica sua posição entre os grandes escritores contemporâneos.


Livro: Montevidéu
Autor: Enrique Vila-Matas
Tradução: Júlio Pimentel Pinto
Páginas: 240 páginas
Editora: Companhia das Letras
Nota: 10/10

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.