Filme com Jason Statham, na Netflix, é injeção de ação que você precisa para sobreviver à semana Divulgação / TF1 Films Productions

Filme com Jason Statham, na Netflix, é injeção de ação que você precisa para sobreviver à semana

Fica difícil imaginar alguém mais adequado para encarnar o anti-herói de “Carga Explosiva 2” que Jason Statham. A inexpressividade marmórea de Statham, um rosto (e um corpo) já bastante conhecidos do público em enredos como este, realçam na medida o caráter eminentemente musculoso do filme de Louis Leterrier, outro nome também habitual no cinema macho, e a parceria dos dois se constitui uma verdadeira grife para quem aprecia histórias ligeiras, inconsequentes, sem comprometimento muito rigoroso com o método, o que vem a ser garantia inescapável de diversão.

O raciocínio mostra-se tão certeiro que a franquia, iniciada em 2002 pelo longa dirigido por Corey Yuen, estende por mais duas produções, de 2008 e 2015, deixando claro que o público não se ressente de esperar por um intervalo duas vezes maior. Os roteiristas Luc Besson e Robert Mark Kamen mantém o expediente, confiando no fascínio que seu astro desperta na intenção de urdir a narrativa que todos já vimos em muitas ocasiões, com ou sem Statham.

Na sequência inicial, Frank Martin, o alterego aqui incorporado por Statham, está num Audi reluzente quando é surpreendido por uma moça que pede-lhe ajuda para trocar o pneu do carro.

Ele, claro, imediatamente suspeita de alguma coisa, mas tenta não ser óbvio e responde que tem de sair, e antes que consiga piscar, a garota saca a pistola. Ele desce, com toda a segurança, e observa chegar mais uma turba de marginais, bastões de ferro em punho, exigindo que ele revele o código que permite dar a partida, e então tem início uma sessão de pancadaria bem ao gosto do freguês, com Martin, como poderia ser de outro modo, liquidando todo mundo.

Depois do incidente, que rouba-lhe minutos preciosos, ele vai apanhar na escola Jack, de Hunter Clary, cujo pai, Jefferson Billings, comanda a DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos. No caminho para casa, o diretor elabora passagens cativantes em que, num jogo de adivinhações, o engessado motorista derrete-se, a sua maneira, pelo garoto, relação sobre a qual paira uma bruma de mistério que Leterrier só dissipa no final.

Jefferson e a mulher, Audrey, discutem no jardim, e Martin acha melhor que Jack fique em sua companhia por mais alguns instantes. Essa é uma das oportunidades que Matthew Modine e Amber Valletta têm para demonstrar um ótimo entrosamento, abrindo espaço para uma miríade de bons personagens secundários.

Em certa altura, o diretor ataca com a ideia de uma bomba que ameaça explodir na lataria do Audi — as alusões à montadora alemã são uma constante, feito um gigantesco comercial muito bem-produzido —, mas o que convence mesmo são as perseguições em que o automóvel torna-se um coadjuvante vistoso, junto com o Porsche negro com que Martin avança por uma ponte em Key Biscayne, na Flórida, além, naturalmente, dos embates em que Statham reafirma sua majestade de lutador de artes marciais, em especial numa cena com Gianni, o vilão caricato do italiano Alessandro Gassman, com direito a um acidente de helicóptero que termina no mar do Golfo do México.

Quando a gente se acostuma com a imagem de Frank Martin como um homem inquebrantável, uma cena com os personagens de Clary, Modine e Valletta escancara sua fragilidade e sua solidão patológica. E aí ele vai para a terceira parte da série, comete os mesmos erros e o ciclo volta ao ponto do qual gostamos mais. Ainda bem.


Filme: Carga Explosiva 2
Direção: Louis Leterrier
Ano: 2005
Gênero: Ação/Thriller
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.