Filme que superou a bilheteria de ‘Vingadores: Guerra Infinita’ em sua estreia acaba de chegar à Netflix

Filme que superou a bilheteria de ‘Vingadores: Guerra Infinita’ em sua estreia acaba de chegar à Netflix

Não há espaço para lamentações em “Along With The Gods: The Last 49 Days”, a não ser que você não tenha assistido ao primeiro filme da série, sucesso estrondoso e algo imprevisto no cinema da Coreia do Sul. Depois de uma incursão pelos reinos do além, Kim Soo-hong e Deok-choon, Hewonmak e Gang-lim, seus guardiões, continuam a jornada em que planejam salvar suas almas, numa história em que o diretor Kim Yong-hwa reforça conceitos a exemplo de carma, julgamento e reencarnação, caros ao budismo.

A abordagem desapegada, altruísta e estoica da busca do homem por redenção ao cabo de anos seguidos de tragédias grandes ou pequenas, momentos em que somos obrigados a lidar sozinhos com as lacunas de nossas existências tão frágeis, superou arrasa-quarteirões hollywoodianos como “Missão: Impossível — Efeito Fallout” (2018), dirigido por Christopher McQuarrie, ou “Star Wars: Os Últimos Jedi” (2017), de Rian Johnson, ratificando uma vez mais a afirmação de que asiáticos gostam de se ver (e se reconhecer) na tela. O já aprovadíssimo texto do diretor e Ju Ho-min mantém o padrão visto em “Along With the Gods: The Two Worlds” (2017), acrescentando um ou outro novo elemento ao eixo da trama, emoldurados pela fotografia zelosa de Kim Byung-seo.

A tônica de divertir antes de qualquer outra coisa, o expediente adotado em “Singwa Hamgge”, franquia de quadrinhos virtuais em que os longas foram inspirados, nunca fica pelo caminho. Soo-hong, a figura ambígua a que Kim Dong-wook dá vida, ganha mais destaque aqui ao ter direito a uma nova avaliação.

Habituado a, literalmente, livrar do fogo almas nem sempre pias, o bombeiro deixa aflorar sua porção maligna, assumindo a aura do espírito vingador que confere um sentido diverso ao enredo, mormente em se comparando o que o personagem mostrara em “The Two Worlds”. Contudo, o rei Yeomra, de Lee Jung-jae, assegura que, a despeito da conduta que passe a apresentar, ele terá direito à reencarnação, o que Haewonmak, Deok-choon e Gang-lim so poderão conseguir se, passado um milênio de purgatório, os dois primeiros recolherem um homem idoso que já extrapolou seu tempo de vida na Terra, ao passo que Gang-lim, o chefe das entidades, assume o caso de Soo-hong sozinho. Junto com Kim Dong-wook, Ju Ji-hoon, Kim Hyang-gi e Ha Jung-woo seguram o alto nível do que foi exibido no ano anterior, embora o diretor ache de enfeitar seu segundo filme com pirotecnias desnecessárias, como o inferno flamejante do terceiro ato. No fim das contas, o saldo é inquestionavelmente positivo. 


Filme: Along With The Gods: The Last 49 Days
Direção: Kim Yong-hwa
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Ação/Fantasia
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.