J. A. Bayona é um cineasta catalão que há tempos dirige filmes hollywoodianos. Nome por trás de “O Impossível”, “O Orfanato”, “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” e séries como “Penny Dreadful” e “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder”, Bayona assinou seu mais recente “A Sociedade da Neve”, que narra a real, dramática e agonizante história do avião que caiu nos Andes, deixando 29 sobreviventes feridos isolados e esperando por socorro por mais de dois meses.
A tragédia ocorrida em 1972, quando um time de rúgbi partiu do Uruguai para um jogo no Chile e acabou vítima da queda da aeronave, é tão impressionante que já foi narrada no filme “Alive”, de 1993, “Sobreviventes dos Andes”, de 1976, e dos documentários “A Sociedade da Neve”, de 2007, e “I Am Alive: Sobrevivendo à Queda de Avião nos Andes”, de 2010. O filme de J.A. Bayona foi a submissão oficial da Espanha ao Oscar de 2024, na categoria de melhor filme internacional, e foi selecionado na penúltima etapa antes dos indicados oficiais. Agora resta aguardar para saber se o longa-metragem realmente disputará a estatueta da Academia.
Adaptado do livro do jornalista uruguaio Pablo Vierci, o enredo inicia exatamente com a queda do avião em 13 de outubro de 1972, transportando 45 pessoas, nos Andes. À princípio, 29 sobreviveram. Equipes de resgate fizeram buscas durante duas semanas até desistirem, por acharem que a chances de sobreviventes era praticamente nulas. No entanto, havia planos de uma nova varredura no local no ano seguinte, quando a neve tivesse derretido. Extremamente realista e agonizante, o filme de J.A. Bayona retrata todo o sofrimento, dor, fome e pânico do grupo, a maioria garotos na casa dos 20 anos, que por meio de um radinho recém-consertado conseguiam ouvir as notícias sobre o próprio acidente, e ouviam que o mundo havia desistido de procurá-los. Se sobreviver a um acidente aéreo parece um milagre, imagine passar 10 semanas em uma montanha congelada.
A cena do acidente é tão visceral que é difícil não sentir o impacto da cena. O instinto de sobrevivência poderia tê-los colocado uns contra os outros, transformando a tragédia em algo ainda mais caótico. Durante o teste de caráter, resistência, amizade e lealdade, o grupo se saiu bem. No entanto, para sobreviver, tiveram de recorrer à antropofagia. Eles precisaram comer os cadáveres para não morrerem de fome. E o filme de Bayona, assim como “Alive”, talvez até mesmo pelo tabu da questão, não conseguem exprimir em imagens e diálogos o quão insuportável e doloroso foi consentir pelo canibalismo e até mesmo cortar e ingerir as carnes humanas, de pessoas que eles conheciam.
A decisão foi tomada oito dias após o acidente. Uma das vítimas, Gustavo Nicolich (aqui interpretado por Blas Polidori), escreveu em um caderno: “Hoje começamos a cortar os mortos para comê-los, não temos outra solução”. Mortes estas que ocorreram de várias formas. Uns lançados para fora do avião durante a queda, outros por conta do impacto da parte dianteira. Ainda tiveram aqueles cujos corpos não suportaram o frio, a fome e a sede no decorrer dos dias, além de uma avalanche que ceifou boa parte dos 29 sobreviventes. Ao fim da jornada, restaram apenas 16. Um deles, Roy Harley, que tinha 1,80 de altura foi resgatado com menos de 40 quilos.
Bayona consegue transmitir, na medida do possível, as emoções e sofrimentos da situação trágica demais para que possamos mensurar. “A Sociedade da Neve” é uma superprodução que consegue trazer visualmente, para o espectador, a grandiosidade da catástrofe.
Filme: A Sociedade da Neve
Direção: J.A. Bayona
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 9