O ano de 2023 foi bem agitado e polêmico no mundo literário, a feira de Frankfurt sofreu grande boicote por cancelar o evento de homenagem à escritora palestina Adania Shibli, que receberia o prêmio pela tradução de “Detalhe Menor”, obra que narra a agressão sexual e o assassinato de uma palestina por militares israelenses. No Brasil, dois escritores indígenas concorreram a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, e o não eleito acabou por demonstrar publicamente o seu desconsolo.
O prêmio Jabuti teve que desclassificar uma capa finalista pelo fato de a arte ter sido gerada pela inteligência artificial. E pela primeira vez um escritor brasileiro, que também foi finalista do Prêmio Jabuti, Stenio Gardel vence o prêmio internacional Book Award, um grande feito para a literatura brasileira.
Ótimos lançamentos, muita literatura de qualidade, neste ano de 2023, eu decidi priorizar a leitura de autores nacionais e latinos, já que tantos temas importantes vêm sendo abordados de maneira magistral pelas novas gerações, e os livros abaixo foram os meus eleitos.
Uma mulher com amnésia é desenterrada em Portugal por um casal que é incumbido de receber os ressurrectos, pessoas que morrem e acabam por renascer em outros lugares. Essa mulher não sabe nada do seu passado e precisa começar uma nova vida, e para isso ela tem que recorrer a um homem que vende passados, Félix Ventura, personagem este, emprestado do livro de José Eduardo Agualusa, “O Vendedor de Passados”. A trama vai sendo entrelaçada com a cultura portuguesa, trazendo curiosidades regionais e peculiares resgatando também a história das tradições dos bordados da região do Minho. A escritora brinca com algumas palavras que têm significados diferentes para cada país e narra com maestria e profundidade a voz melancólica e mesmerizada do homem nostálgico pela mulher que desapareceu. Foi através de uma crônica de Drummond falando da igreja de Almofala, que Socorro teve a ideia do livro. Num linguajar poético, socrático, Socorro traz uma escrita madura e recheada de pesquisas étnicas, culturais e religiosas
Com traços autobiográficos, a autora trans Camila Sosa Villada imprime sua originalidade na escrita, mesclando pura prosa poética alternada com a brutalidade real vivenciada.
Outra obra marcante do aclamado Itamar, “Salvar o Fogo” nos mostra que os traumas do colonialismo ainda permanecem vivos, como uma ferida sangrante.
A vida íntima de um poderoso traficante é narrada pelo filho do chefão, o brilhantismo de Juan Pablo é criar um personagem que faz o leitor saber muito mais do que o próprio narrador.
O livro tem uma escrita impecável, merecedora do prêmio Saramago. Rafael conseguiu criar um dos piores personagens da literatura brasileira.
O livro mostra a realidade de rejeição familiar e o abandono que muitos indivíduos da comunidade LGBTQI+ se deparam ao exporem a sua afetividade. Um livro que prima pela escrita e estilo, brilhante.
Treze histórias de personagens do senso comum, nem sempre admiráveis. Um livro humano, que venceu o Pulitzer e que virou minissérie da HBO.
Vanda e Aldo estão casados há mais de cinquenta anos e ao voltarem das férias na praia, eles encontram seu apartamento destruído. Starnone surpreende pela escrita ácida e fissurada.
Daniele Mallarico, um idoso é convocado pela filha a tomar conta de Mario, seu neto de quatro anos, num apartamento preenchido com os fantasmas de seu passado.
Pietro mantém um relacionamento tempestuoso com Teresa, que lhe propõe um jogo: que eles compartilhem o seu segredo mais obscuro. Essa confissão se perpetua como uma nuvem ameaçadora na psique de Pietro.
A história narra o mistério por trás do sumiço de Tavinho, um músico desaparecido durante o regime militar, filho de Beth. Um drama familiar com surpresas agradáveis e repleto de sarcasmo, ironia e humor inteligente.