Este ano eu basicamente recuperei o prazer da leitura. E dei uma boa arrancada no segundo semestre. A rotina profissional obriga a visita diária aos jornais, aos sites de informação, às redes sociais. Então chegaram as newsletters dos mais variados assuntos. Com destaques para literatura, música e cinema. Pessoas que gostam de ler escrevendo sobre seus processos de escrita acabam somando percepções relevantes. Fiquei um pouco mais atento aos lançamentos, principalmente os nacionais. Abri um pouco mais os olhos para autores vizinhos da América Latina. Especialmente os contemporâneos. O que também serviu para despertar o alerta de que a recuperação dos clássicos permanece fundamental. Foi um ano para conhecer novos nomes e perceber que se nem todos vão ocupar um lugar na estante, ao menos eles deram uma boa arejada no ambiente.
“Todos os Nossos Ontens”, de Natalia Ginzburg, é o exemplo de uma descoberta que me deixou atordoado. Eu ainda estou lendo, na verdade. Retardando o final ao máximo possível para não perder o encanto. Encontrei em uma livraria do Rio, onde também tive a sorte de encontrar “A Chave”, de Casa, de Tatiana Salem Levy. Digo a cidade, não a mesma livraria. A narrativa de Natalia Ginzburg me capturou nos primeiros parágrafos. Eu tive a certeza de que jamais iria abrir mão desse livro e que dali em diante iria procurar todos os romances que ela escreveu. A história de uma família que se confunde com a história de uma Itália enredada na Segunda Guerra tem pormenores saborosos e uma variedade de reviravoltas, com desdobramentos coloridos que não perdem o singelo apesar de uma dramaticidade latente e revelam, para mim, que Natalia Ginzburg sempre foi uma das minhas escritoras favoritas, embora não a conhecesse.
Minha porta de entrada para a obra do escritor francês, Ioga começa de maneira simples e ganha uma complexidade robusta e turbulenta com o desenrolar das páginas.
O primeiro livro da escritora italiana era o último que faltava na minha coleção. Gerar incômodo, aliás, ao lado de um certo deslumbramento, é característica da narradora.
Desde “Pais e Filhos”, procuro ler tudo o que estiver ao meu alcance de Turguêniev. A Véspera fala do empoderamento feminino numa época em que a expressão não existia.
Dois livros que assumem a voz de crianças como condutoras de experiências traumáticas. São abordagens opostas, mas ambas com uma consistência avassaladora.
Essa breve novela foi uma das inspirações para Freud desenvolver sua teoria do inconsciente. Tecnicamente o livro apresenta problemas de verossimilhança e ritmo narrativo, mas sua originalidade é evidente.
A grande farsa de um autor que mistura realidade e ficção em um labirinto de seres e situações que deixa o leitor com a pulga atrás da orelha: será que tudo isso é verdade?
Michelle é líder da banda Japanese Breakfast, que já se apresentou no Brasil. Ela se divide entre Estados Unidos e Coreia do Sul para lembrar da mãe pelo viés da comida.
O jovem gaúcho está na lista dos que repercutem a sonoridade da periferia com todas as suas inquietações. “Os Supridores” tem ação e humor que sugerem ficar de olho no cara.
Os contos desta argentina deixam um gosto de morangos mofados na boca, repetindo Caio Fernando Abreu. Se nem tudo agrada, tudo desanda numa estranha atmosfera.
Ela é comumente incluída em certo clube do gótico andino, seja lá o que isso queira dizer. “Mandíbula” retrata os males de mentes distorcidas, muito além dos fantasmas.
Novamente, duas narrativas supostamente infantis que margeiam ora um paraíso idílico ora uma profundeza áspera, contornando com a visão lúdica um horizonte horripilante.