Drama que acaba de chegar à Netflix é terapia que sua alma precisa e vai te arrancar lágrimas Divulgação / Stage 6 Films

Drama que acaba de chegar à Netflix é terapia que sua alma precisa e vai te arrancar lágrimas

Viagens acabam sendo um belo pretexto para se conhecer um pouco mais da própria alma, mormente se em companhia de pessoas as quais julgamos conhecer com algum grau de certeza. Mesmo naqueles deslocamentos feitos às pressas, sem método, para se contornar um obstáculo tão impositivo quanto categórico — ou, talvez, sobretudo nessas circunstâncias —, tem-se uma noção tanto menos inexata de quem passa conosco boa parte da vida, e isso nem sempre aponta para a harmonia geral.

A família retratada em “Limites” tem muito do adágio tolstoiano, para o bem e para o mal, embora também acabe se parecendo com todas as outras famílias do mundo em suas dores muito, muito particulares, mérito do texto e da direção de Shana Feste, nessa ordem. Seus personagens transmitem a impressão de estarem num êxodo metafísico em busca de si mesmos, ainda que a diretora-roteirista consiga inserir no centro da história um argumento nada convencional, absorvido sem muita dificuldade graças ao meticuloso trabalho do elenco.

Laura Jaconi está diante da terapeuta com quem faz análise há algum tempo, tentando convencer-se a si mesma de que não sente falta de Jack, o pai, que, por seu turno, mantém o esforço de refazer os laços com ela — ao menos assim lhe parece. Já nessa sequência, Feste dá ao público bons elementos para concluir que a personagem central, com Vera Farmiga melhor a cada minuto, está no meio de furações que podem fazer estragos para muito além de sua combalida experiência filial.

Farmiga lança mão de um vastíssimo acervo de expressões fisionômicas para conter o mal-estar atávico de Laura, ou, ao contrário, para elevá-lo à maior potência de que é capaz, sem esconder a fragilidade dessa mulher vivida, mas sempre assustada, como o gato que tem na bolsa e que denuncia outra de suas compulsões, esta adorável, mas um tanto imperativa demais. Em casa, na manhã seguinte, ela tenta sair da cama sem incomodar o parceiro casual que conheceu há alguns dias, desviando da imensa concentração de cães e gatos que rodeia, para ver se Henry, o filho interpretado por Lewis MacDougall, está pronto para a escola. E, então, o filme começa realmente.

Laura não consegue ignorar outro telefonema do pai, e fica sabendo que ele está prestes a ser despejado do asilo em que tem morado por ter usado a estufa para cultivar maconha. Desse ponto em diante, com uma ou outra variação, Farmiga e Christopher Plummer (1929-2021) levam o enredo, mais e mais ancorado na fraqueza quase palpável da anti-heroína e na suposta autossuficiência de Jack, que, segundo ele, sucumbe a um câncer de próstata terminal.

O verdadeiramente mágico aqui é observar como Feste vai de um extremo a outro, apostando, com acerto, na desenvoltura de seu par de estrelas. A dependência de Laura para com o pai e vice-versa, evidenciada também por JoJo, a ótima irmã caçula de Kristen Schaal, é o que nutre toda a história, sem que seja necessária qualquer guinada mirabolante. Não é pouco.


Filme: Limites
Direção: Shana Feste
Ano: 2018
Gêneros: Comédia/Thriller
Nota: 9/10