A melhor comédia romântica do cinema de todos os tempos, com Julia Roberts, está na Netflix Divulgação / Touchstone Pictures

A melhor comédia romântica do cinema de todos os tempos, com Julia Roberts, está na Netflix

Vivian Ward, interpretada por Julia Roberts no romance de 1990 “Uma Linda Mulher”, mexeu com as fantasias de homens e mulheres daquela década e das subsequentes. O conto de fadas moderno que une um casal de diferentes classes sociais transformou Julia Roberts, da noite para o dia, de uma desconhecida a uma obsessão mundial. Ninguém se encaixaria tão perfeitamente neste papel quanto ela, com seus cabelos volumosos, rosto e pernas perfeitas, além de seu sorriso incrível. Quem não estava apaixonado por Julia Roberts na década de 1990, queria ser ela. E a comédia romântica apimentada de Garry Marshall mexeu ainda mais com a imaginação das pessoas.

Longe de ser um romance bobinho, “Uma Linda Mulher” traz uma premissa não tão original, mas extremamente bem-executada. A química compartilhada por Roberts e Richard Gere foi tão impactante que o filme virou um fenômeno mundial idolatrado por fãs até os dias de hoje. O romance nas telas entre os dois atores se repetiu nove anos depois em “Noiva em Fuga”.

Há inúmeros textos que observam a controvérsia do enredo, questionando pontos de misoginia, dominação masculina, capitalismo, etarismo, síndrome de Estocolmo dentre outras problematizações. Mas, convenhamos, quando Julia Roberts assume a tela com seu carisma e sua atuação que domina a cena, ela desarma os mais  resistentes.

O primeiro título dado ao filme tinha sido “3 mil”, uma referência ao valor combinado pelos serviços de Vivian com o empresário Edward Lewis (Gere). Depois que a música “Pretty Woman”, de Roy Orbison, entrou para a trilha sonora, a Disney, produtora do longa-metragem, acabou decidindo por incorporar o nome da canção ao título da comédia romântica. Filme e música, no fim das contas, se tornaram indissociáveis.

No enredo, Vivian é uma garota humilde que abandonou os estudos em sua cidade natal na Geórgia, e agora divide um apartamento na Califórnia com a amiga Kit De Luca (Laura San Giacomo). Ambas se sustentam comercializando sexo em um ponto de prostituição na calçada da fama, em Bervely Hills. Quando o destino de Vivian se cruza com o de Edward Lewis, tudo está prestes a mudar.

Empresário e milionário, ele leva um fora de sua noiva por ser considerado “frio” e “sem coração”. Ele não se importa realmente com o término, mas as palavras o fazem refletir sobre o tipo de pessoa que se tornou. Ele pega um Lotus Esprit emprestado de seu amigo, Philip Stuckey (Jason Alexander), e sai dirigindo loucamente pela cidade. Mas Edward não sabe manusear um carro que não seja automático. Além disso, ele está perdido e não consegue chegar ao seu hotel. Quando encosta para pedir informações a Vivian, ela cobra dez e depois vinte dólares apenas para apontar o caminho. Vivian é uma garota única e cheia de personalidade. Embora seja fã de carros, porque leu muitas revistas de automóveis e porque na sua cidade montar e consertar carros era uma diversão popular, conforme ela mesma conta, ela não se sente intimidada diante daquele automóvel esportivo imponente e indomável.

Quando ela se dá conta de que Edward não sabe onde fica cada marcha, ela parece uma especialista ao informar o básico da direção: o câmbio só precisa seguir o caminho do H. Edward a pede para ser sua motorista e levá-lo parar seu hotel chique e conservador. Quando ele chega acompanhado de uma prostituta, claro, o gerente não fica nada satisfeito pela possibilidade dela manchar a reputação do estabelecimento, mas não pode se dar ao luxo de desagradar um cliente tão importante como o senhor Lewis. Não é apenas a beleza desconcertante de Vivian que prende Edward. É também todo o pacote de personalidade, carisma, simpatia e simplicidade. Ele a leva para fazer compras,  acompanha-lo a jantares caros e partidas de polo. A estadia da garota no quarto de hotel é prolongada.

Edward toca piano enquanto ela se senta nua sobre o instrumento. Os dois se beijam, contrariando as regras de Vivian sobre limites com clientes. Ela está se apaixonando. Mas Edward também está, pela primeira vez. Richard Gere, que é 20 anos mais velho que Julia Roberts na vida real, por vezes assume um tom paternal sobre a relação, mas a paixão que se desenrola entre eles é palatável e envolvente.

Você sempre pode tentar destruir a magia de “Uma Linda Mulher” com argumentos politicamente corretos. Há sempre um lado obscuro das coisas. Mas a intenção de Marshall era oferecer um filme alegre, romântico e esperançoso, mesmo que tenha esbarrado em alguns temas sensíveis. O filme continua sendo uma deliciosa sessão de cinema se você simplesmente souber sentar e relaxar, apreciar o talento de Julia Roberts e parar de tentar problematizar tudo.


Título: Uma Linda Mulher
Direção: Garry Marshall
Ano: 1990
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.