Vivian Ward, interpretada por Julia Roberts no romance de 1990 “Uma Linda Mulher”, mexeu com as fantasias de homens e mulheres daquela década e das subsequentes. O conto de fadas moderno que une um casal de diferentes classes sociais transformou Julia Roberts, da noite para o dia, de uma desconhecida a uma obsessão mundial. Ninguém se encaixaria tão perfeitamente neste papel quanto ela, com seus cabelos volumosos, rosto e pernas perfeitas, além de seu sorriso incrível. Quem não estava apaixonado por Julia Roberts na década de 1990, queria ser ela. E a comédia romântica apimentada de Garry Marshall mexeu ainda mais com a imaginação das pessoas.
Longe de ser um romance bobinho, “Uma Linda Mulher” traz uma premissa não tão original, mas extremamente bem-executada. A química compartilhada por Roberts e Richard Gere foi tão impactante que o filme virou um fenômeno mundial idolatrado por fãs até os dias de hoje. O romance nas telas entre os dois atores se repetiu nove anos depois em “Noiva em Fuga”.
Há inúmeros textos que observam a controvérsia do enredo, questionando pontos de misoginia, dominação masculina, capitalismo, etarismo, síndrome de Estocolmo dentre outras problematizações. Mas, convenhamos, quando Julia Roberts assume a tela com seu carisma e sua atuação que domina a cena, ela desarma os mais resistentes.
O primeiro título dado ao filme tinha sido “3 mil”, uma referência ao valor combinado pelos serviços de Vivian com o empresário Edward Lewis (Gere). Depois que a música “Pretty Woman”, de Roy Orbison, entrou para a trilha sonora, a Disney, produtora do longa-metragem, acabou decidindo por incorporar o nome da canção ao título da comédia romântica. Filme e música, no fim das contas, se tornaram indissociáveis.
No enredo, Vivian é uma garota humilde que abandonou os estudos em sua cidade natal na Geórgia, e agora divide um apartamento na Califórnia com a amiga Kit De Luca (Laura San Giacomo). Ambas se sustentam comercializando sexo em um ponto de prostituição na calçada da fama, em Bervely Hills. Quando o destino de Vivian se cruza com o de Edward Lewis, tudo está prestes a mudar.
Empresário e milionário, ele leva um fora de sua noiva por ser considerado “frio” e “sem coração”. Ele não se importa realmente com o término, mas as palavras o fazem refletir sobre o tipo de pessoa que se tornou. Ele pega um Lotus Esprit emprestado de seu amigo, Philip Stuckey (Jason Alexander), e sai dirigindo loucamente pela cidade. Mas Edward não sabe manusear um carro que não seja automático. Além disso, ele está perdido e não consegue chegar ao seu hotel. Quando encosta para pedir informações a Vivian, ela cobra dez e depois vinte dólares apenas para apontar o caminho. Vivian é uma garota única e cheia de personalidade. Embora seja fã de carros, porque leu muitas revistas de automóveis e porque na sua cidade montar e consertar carros era uma diversão popular, conforme ela mesma conta, ela não se sente intimidada diante daquele automóvel esportivo imponente e indomável.
Quando ela se dá conta de que Edward não sabe onde fica cada marcha, ela parece uma especialista ao informar o básico da direção: o câmbio só precisa seguir o caminho do H. Edward a pede para ser sua motorista e levá-lo parar seu hotel chique e conservador. Quando ele chega acompanhado de uma prostituta, claro, o gerente não fica nada satisfeito pela possibilidade dela manchar a reputação do estabelecimento, mas não pode se dar ao luxo de desagradar um cliente tão importante como o senhor Lewis. Não é apenas a beleza desconcertante de Vivian que prende Edward. É também todo o pacote de personalidade, carisma, simpatia e simplicidade. Ele a leva para fazer compras, acompanha-lo a jantares caros e partidas de polo. A estadia da garota no quarto de hotel é prolongada.
Edward toca piano enquanto ela se senta nua sobre o instrumento. Os dois se beijam, contrariando as regras de Vivian sobre limites com clientes. Ela está se apaixonando. Mas Edward também está, pela primeira vez. Richard Gere, que é 20 anos mais velho que Julia Roberts na vida real, por vezes assume um tom paternal sobre a relação, mas a paixão que se desenrola entre eles é palatável e envolvente.
Você sempre pode tentar destruir a magia de “Uma Linda Mulher” com argumentos politicamente corretos. Há sempre um lado obscuro das coisas. Mas a intenção de Marshall era oferecer um filme alegre, romântico e esperançoso, mesmo que tenha esbarrado em alguns temas sensíveis. O filme continua sendo uma deliciosa sessão de cinema se você simplesmente souber sentar e relaxar, apreciar o talento de Julia Roberts e parar de tentar problematizar tudo.
Título: Uma Linda Mulher
Direção: Garry Marshall
Ano: 1990
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 10