Criada em 2016, a minissérie de seis episódios “Crisis in Six Scenes” é a primeira e única criação de Woody Allen para a televisão, já que o próprio cineasta admitiu que detestou a experiência e que não pretende repeti-la. Amado ou odiado, Woody Allen é dono de seu próprio modelo de fazer cinema, um símbolo de autenticidade. Embora muitos tentem produzir conteúdo parecido com o seus, nada se iguala ao seu estilo único de criar arte. Em “Crisis in Six Scenes”, tradução para algo como “Crise em Seis Episódios”, Woody Allen mistura seu humor tradicional, aquele velho alter ego neurótico de seus filmes, que muito se assemelha a ele próprio, com suas angústias, paranoias e idiossincrasias. Ele mistura sua própria concepção degradante do produto feito para a televisão. Woody Allen deixa óbvio que acredita que a tevê é inferior ao cinema. Sua opinião, no entanto, também parece ultrapassada.
Considerado enfadonho por muitos por causa de seus longos diálogos, as neuroses, e o humor pessimista, o cineasta mostra que ainda não perdeu a mão da arte que domina. A série gira em torno de Sidney e Kay (Woody Allen e Elaine May), um casal de idosos, classe média e branco norte-americano, que vive no subúrbio de Nova York e, apesar de terem uma mentalidade mais voltada para ideologias marxistas, vivem em sua bolha de consumismo, conforto e aceitação do sistema político norte-americano, acreditando que a realidade se muda por meio passivo, com o voto.
No entanto, o próprio Sidney sequer tem registro de eleitor. Na casa deles, o jovem Allen (John Magaro) também contempla a mesma visão de mundo do casal. Ele é uma visita, está apenas de passagem. Mas o universo desse pequeno grupo esquerda caviar é abalado pela chegada de Lennie (Miley Cyrys). Uma jovem ideologias ultra esquerdistas radicais e procurada pelo FBI por terrorismo, ela se abriga na casa de Sidney e Kay e estoura essa bolha, expondo-os fora de sua zona de conforto.
Embora tenha recebido algumas críticas negativas, certamente esse compilado único de seis episódios com aproximadamente 20 minutos de duração não vai decepcionar os fãs mais raízes de Woody Allen. O tema, embora seja político e a série tenha sido lançada no ano em que Donald Trump foi eleito, quando discussões sobre a direita e a esquerda se acirraram ainda mais, com as fake news, a geração awake e o movimento “Black Lives Matter”, não é algo pesado de se ver. Aos assistí-los todos juntos, os episódios juntam algo de mais ou menos uma hora e meia.
Os diálogos da série são ótimos. Woody Allen sempre acerta nas piadas, com tiradas inteligentes e provocativas. A história se passa nos anos 1960, mas mesmo assim é bastante atual. É muito fácil associar suas reflexões com o mundo de hoje. “Crisis in Six Scenes” é uma série carismática e leve, que aborda o s extremos de direta ou esquerda, mas de uma maneira extremamente desapegada e reflexiva, sem ser panfletária.
Filme: Crisis in Six Scenes
Direção: Woody Allen
Ano: 2016
Gênero: Comédia
Nota: 9/10