James McAvoy é um ator extraordinário e brilha em sua atuação improvisada no thriller “Meu Filho”, de Christian Carion, gravado em meio à pandemia de Covid-19 e lançado em 2021. Carion insistiu em um remake de seu próprio filme “Mon Garçon”, que não agradou a crítica. Com “Meu Filho”, McAvoy, mesmo sendo um dos atores mais talentosos desta geração, não salva o roteiro, apesar da premissa interessante.
A história gira em torno de Edmond Murray (McAvoy), um homem que recebe a ligação de sua ex-mulher em prantos dizendo que o filho deles, de 7 anos, sumiu de um acampamento. Então, ele decide empreender uma investigação particular para descobrir o paradeiro da criança. A missão o leva para lugares obscuros e perigosos demais para qualquer pessoa comum, e é do meio para o final que o filme engata um ritmo mais dinâmico e intrigante e consegue, finalmente prender o espectador.
Como um longa-metragem experimental, o filme parece meio descompassado e monótono. Todos os diálogos entre os personagens são improvisados e suas reações são genuínas em meio às conversas e situações. Desta forma, Carion buscou alcançar algum tipo de ultrarrealismo, mas se fôssemos assistir à vida, veríamos que grande parte de suas cenas são desinteressantes. E é o que ocorre com “Meu Filho”. Experiências similares, mas não tão intensas já foram testadas por Terrence Malick, que também encoraja os diálogos espontâneos e deixa a história seguir seu fluxo sem que o roteiro seja levado ao pé da letra. “Além da Linha Vermelho”, por exemplo, um de seus maiores filmes, seguia um fio completamente diferente do que se tornou o resultado final. Mesmo assim, Malick conseguiu fazer seus personagens transcenderem e seu filme brilhar.
Mas “Meu Filho” tem alguns méritos que precisam ser destacados. A fotografia de Eric Dumont das paisagens montanhosas e nubladas escocesas de tirar o fôlego. A estética do filme, ainda, se assemelha à do filme “Os Suspeitos”, de Denis Villeneuve. Mas não só isso, o enredo também segue uma linha similar e que conduz seus protagonistas para um fim bastante sombrio.
Outro fator interessante de “Meu Filho” é que ele foi gravado durante a pandemia de Covid-19, por isso, em vários momentos, os atores parecem isolados. Há vários momentos de James McAvoy sozinho e conversando com pessoas apenas pelo celular. Foi uma maneira de Carion solucionar a questão do distanciamento social e, ao mesmo tempo, mostrar em seu filme o sentimento de isolamento do seu protagonista, cujo histórico familiar vai se desenrolando ao longo da trama. Edmond Murray é um pai ausente, que sente culpa, embora não seja responsável pelo desaparecimento do filho.
As cenas de McAvoy olhando vídeos da criança no celular e caindo aos prantos é envolvente, porque provoca empatia. Eleva o grau de realismo e humanização do personagem no filme e nos faz sentir dentro de sua bolha de angústia, pressão e culpa. “Meu Filho” não é um filme ruim, só não é tudo aquilo que esperamos de um filme estrelado por McAvoy. Mesmo assim, há algo de apelativo que faz valer a pena assistí-lo.
Filme: Meu Filho
Direção: Christian Carion
Ano: 2021
Gênero: Policial/Suspense/Drama
Nota: 8/10