Dirigido por Zack Snyder, o filme mais esperado de 2023 acaba de estrear na Netflix Clay Enos / Netflix

Dirigido por Zack Snyder, o filme mais esperado de 2023 acaba de estrear na Netflix

O espaço é vasto demais para ser governado por homens mesquinhos, assombrosamente ineptos, cuja visão míope acerca da vida acaba por fomentar insurreições de consequências imprevisíveis espalhando-se de galáxia em galáxia até que tudo redunde num enorme buraco negro. “Rebel Moon — Parte 1: A Menina do Fogo” trabalha sobre tal premissa à exaustão, supondo que a audiência vá comprar logo uma história já vista e revista no cinema ao longo dos anos.

O fantástico tem virado uma marca registrada na obra Zack Snyder, e agora o diretor aproveita para incrementar a experiência em franquias como “Army of the Dead” e continuar falando sobre tipos marginais dotados de charme invulgar, inteligência acima da média, muito senso de humor e uma personalidade gauche e magnética. O roteiro de Snyder, Shay Hatten e Kurt Johnstad vai a um ponto distante do universo a fim de realçar a ganância de soberanos ávidos por expandir seus domínios, contando com o medo dos oprimidos e do silêncio dos devassos.

Um novo Mundo-Mãe colapsa depois do assassinato de seu rei e rainha, e as lutas fratricidas por poder tratam de minar a disposição do povo para reagir. O senador Balisarius, o novo regente, envia seu general mais atroz para perseguir os que não se conformassem com a ascensão do novo reino, os rebeldes do título. Começa um tempo de incerteza, selvageria e fome, um processo gradativo, mas constante, de subjugação, que, por outro lado, vai fortalecendo a resistência. Os camponeses que habitam Veldt, uma terra ainda próspera, são liderados por Sindri, o titânico e encardido personagem de Corey Stoll, cuja caracterização lembra um ciclope da mitologia grega.

Malgrado toda a imponência, Sindri não tarda a fenecer, derrotado pelo almirante Atticus Noble, de Ed Skrein, um tipo muito mais diáfano, dado aos achaques próprios de seu temperamento marcial, mas astuto, e respaldado por um exército muito bem-treinado e com um farto arsenal ao seu dispor.

Não demora para que Noble estenda seus tentáculos sobre Veldt. Nos bastidores, Kora, uma agricultora franzina sai à cata dos raros guerreiros que entendem que sua única chance de sobrevivência é combater o novo déspota e seus homens, embora ninguém ignore que muitos não ficarão para ver o fim da história. Sofia Boutella aparececomo uma heroína misteriosa, cujo passado remonta a um período de mais serenidade e aprendizado, quando no posto de guardiã da princesa do Mundo-Mãe agora extinto. Sempre batendo-se contra seus próprios fantasmas, Kora viaja com uma comitiva de soldados a Sharaan, planeta natal do rei Levítica, na intenção de persuadir o monarca a patrocinar sua causa. Resta claro desde o princípio que Snyder não pretende revelar muito — não obstante o filme tenha mais de duas horas —, mas o diretor chega a negligenciar o enredo, dando a audiência só um gosto, e avisando sobre a segunda parte de sua distopia sobre o neofascismo.


Filme: Rebel Moon — Parte 1: A Menina do Fogo
Direção: Zack Snyder
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Fantasia
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.