Não é sempre, mas, de vez em quando, a voz do povo acerta o gol em cheio. Diz um provérbio chinês “há três coisas que não voltam mais: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida”. Aqui no Brasil, diz-se que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Do Oriente ao Ocidente, a sábia voz dos filósofos populares já compreendeu que a verborragia costuma trazer pouco resultado.
Do alto de sua experiência e domínio vocabular, meu pai nunca teve paciência para o que chama de “juração”. Sempre que vê um casal ostensivamente apaixonado (carro de som com mensagem para os antigos, ou, para os mais jovens, postagens infinitas nas redes sociais), ele balança a cabeça, dá uma risadinha irônica e comenta “Ih… Que juração, hein?” Seja qual for a natureza, juras sem fim não lhe fazem a cabeça. De seu dicionário, consta que juração é quando o que a pessoa externa está além daquilo que ela realmente faz. Fala-se para disfarçar o indisfarçável, para abafar as ações que, de maneira esbaforida, contradigam a ladainha dita.
Para comprovar que meu velho é mesmo um sábio, basta observar os políticos: palavras sofisticadas, gestos firmes, trilhões de vocábulos para fazer uma dúzia de juras-caras-de-pau e, ao final, quase nada de ação. Mas, para que não sejamos algozes injustos, a mesma lógica se aplica aos mais diversos contextos. Algumas peças não raras, por exemplo, adoram dizer que são humildes. Em longos discursos, enaltecem a humildade dos atores bíblicos e dos líderes como Gandhi e Madre Teresa; sabem citações de filósofos gregos que falem sobre o assunto; contam sobre os próprios feitos em que se portaram de maneira recatada e modesta. E, enquanto se inebriam de si, esquecem-se de que o verdadeiro humilde não perde tempo com autocongratulações. “A pessoa orgulhosa pode aprender a ser humilde, mas terá orgulho de sua humildade”, disse Mignon mclaughlin. É trocar seis por meia dúzia. De que adianta?
Os relacionamentos também não têm escapado. Nunca se sentiu tanta necessidade de contar aos sete ventos o amor vivido. Hashtags criativas vendem o amor ideal, fotos espontaneamente forjadas mostram a frágil honestidade dos textões de juras e cumplicidades eternas. E, por trás de toda exposição, os mesmos problemas que assolam a humanidade desde sempre continuam a latejar a vulnerabilidade das ataduras que conectam almas pobres e mundanas.
Palavras envolvem, ainda mais quando bonitas e bem faladas, mas deveriam carregar consigo um compromisso. Passeando pelas livrarias, encontram-se livros que ensinam como manipular a linguagem, os gestos corporais, as expressões faciais e tudo o mais que se pode conduzir num corpo. A comunicação tornou-se um artifício para seduzir e colonizar o mundo. Tornamo-nos sofistas sofisticados, nuvens sem água, árvore frondosa, porém sem fruto.
Há silêncios que expressam muito e palavras que dizem nada. Mas, acima de tudo, o que mais comunica é colocar a mão na massa.